terça-feira, 8 de outubro de 2013

Histórias da Dona Márcia III

Troca de favores


- Jo, faz um favor pra mim?

- Qual, mãe?

- Compra uma Coquinha?

- Não.

- Poxa, Jo. Compra uma Coquinha pra mim.

- Só compro se a senhora ficar aqui, me fazendo companhia. Tô com saudade da senhora, quase não te vejo mais.


Quando viro as costas, Dona Márcia sumiu.
Minutos depois, ela volta.


- Não acredito! Nem pra ganhar Coca a senhora quer me fazer companhia?

- Que que eu vou ficar fazendo aqui?

- Podemos ficar conversando.

- Toda vez que eu te chamo para assistir às minhas séries, você nunca vai.

- E por que eu que tenho que fazer um programa que a senhora gosta? Não podemos fazer algo bom pros dois?

- Melhor ver minhas séries do que ver o joguinho de vocês. Credo, não sei como vocês conseguem jogar aquilo.

- Maas é tão legal! A senhora voltou aqui pra fazer uma pizza?

- Se eu fizer pizza você compra a Coca?

- Claro que compro!

- Oba! Deixa eu ver se tem queijo – dá uma olhada na geladeira – yeeeees, tem queijo! Deixa eu ver se tem molho – dá uma olhada no armário – yeeeeees, tem molho! Pode ir comprar a Coca.

- Liiiipe, você não ia lá comprar uma Coca pra mãe? – gritei para meu irmão, que estava no quarto.

- Não! – respondeu.

Putz.


Mas no final, o Lipe, como prova do bom filho que é, foi comprar uma Coca. Uma não, comprou duas Cocas pra mamãe matar a vontade. E todos nós nos deliciamos com as épicas pizzas da Dona Márcia.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Último suspiro

[Editorial do Jornal de Santarém e Baixo Amazonas, na edição de 6 a 12 de setembro]


Hoje, mais um ciclo, para mim, chega ao fim. Depois de 120 edições do Jornal de Santarém e Baixo Amazonas, finalmente o nome correspondente ao cargo de ‘Editor-chefe’, aqui ao lado, no expediente, será trocado. Então eu acho que vale a pena curtir este último suspiro de vida editorial para contar um pouco sobre tudo o que vivi nesta casa.
Sempre achei interessante como a vida trilha os nossos caminhos. Quando nos esforçamos, nem que seja um pouquinho, sempre conseguimos realizar os nossos sonhos. Ou, pelo menos, parte deles.
Em 2011, pouco tempo após a minha formatura, fui procurado pelo diretor do JSBA para assumir a vaga de editor-chefe que, no momento, estava precisando de um ocupante. No final da tarde de 29 de abril de 2011, uma terça-feira, foi quando eu recebi a ligação do jornal, informando-me sobre a vaga. No dia seguinte, eu sentei para conversar sobre o trabalho com o diretor do jornal. Na verdade nem foi uma conversa. Durou uns três minutos. Nem apresentei currículo, nem nada.
- Olha, o salário é esse aqui, mais isso aqui. Vai querer? – disse ele, assim, bem direto.
Falei que pensaria no caso e depois ligaria para dar a minha resposta. Saí do jornal extasiado de tanta alegria. Mais do que um bom salário, eu teria a grande chance de realizar um dos meus inúmeros sonhos: ser editor. Desde os tempos de faculdade sempre gostei mais de escrever do que falar. Nunca fui muito amigo do Rádio ou Telejornalismo, mas, sim, do Impresso e Webjornalismo. E ser editor-chefe do jornal mais tradicional de Santarém não era uma oportunidade que bateria à minha porta outra vez.
Cheguei em casa, contei a novidade à minha família, e, à noite, liguei para o diretor do jornal.
- Boa noite. Só estou ligando para dizer que vou ficar com a vaga. Amanhã passo lá no jornal pra gente acertar os detalhes.
No outro dia, como combinado, fui até a empresa. Quando cheguei, o diretor não estava. A secretária pediu para eu esperar. Após alguns minutos, ela retornou, perguntando se eu tinha experiência como editor.
- Não... sou recém-formado. Tenho apenas uma noção do que fazer.
Ela pediu para eu acompanha-la até a redação. Quando entramos, ela me apresentou a equipe e disse:
- Esse aqui é o seu computador. Pode fechar o jornal, ele circula amanhã.
Esse dia, 31 de abril de 2011, quinta-feira, nunca sairá da minha memória. Foi o dia mais tenso e intenso da minha vida. Eu, que nunca havia passado mais de três meses em um mesmo trabalho, que não tinha ideia de como fechar um jornal, enfrentava meu maior leão profissionalmente.
- Mas eu só vim para falar que vou ficar com o emprego, não vim para trabalhar! – tentei, em vão, argumentar.
Com a ajuda daquela equipe, e, principalmente de Deus, no final do dia o jornal estava pronto. Apesar das feridas causadas pelo feroz leão, no final, eu consegui matá-lo. Admito que pensei em desistir... mas continuei até hoje matando o meu leão de cada dia, e convivendo com as quintas-feiras de cão.
Trabalhar neste jornal foi uma das coisas mais importantes que fiz. E eu só tenho a agradecer a Deus por todo o tempo que passei aqui, e por todos que contribuíram para que o meu trabalho ficasse mais fácil, quer dizer, menos difícil. Aos olhos de quem está de fora, de você leitor, pode parecer que o nosso trabalho seja moleza. Mas para quem está do lado de cá, as coisas não são tão moles assim.
Fazer jornalismo exige muito mais do que saber contar uma boa história. Sempre penso o jornalismo como um grande pilar da sociedade, como uma inesgotável fonte em busca da verdade, visando sempre – como diz o juramento dos jornalistas - um futuro mais justo e mais digno para todos os cidadãos. Em muitos casos, a imprensa é a única aliada da população. É nela que a sociedade vê a esperança de alguma melhora.
Agora imagine a responsabilidade que um editor-chefe tem. É ele o responsável por tudo o que sai em um jornal. Se aparecer algum erro, alguma informação trocada, alguma acusação infundada, alguma mentira deslavada, a culpa é dele. É ele quem tem a missão de ser o capitão do navio, principalmente quando o perigo de um naufrágio está próximo.
Trabalhar neste jornal fez de mim uma pessoa muito melhor. Comecei a expandir horizontes que nunca havia vislumbrado, a analisar ângulos quase invisíveis. Exercitei a minha paciência, e, também, tive a oportunidade de sentir na pele o peso de uma liderança. E isso, talvez, tenha sido o meu maior aprendizado. Comandar uma equipe é muito mais complexo do que parece, principalmente quando você tem metas muito rígidas a serem alcançadas. E se não forem, a bomba cairá em suas mãos.
Sempre procurei ser amigo de quem dividia a labuta comigo, orientando, incentivando e sempre disposto ajudar. É claro que nem sempre foi possível, mas sempre procurei dar o meu melhor. Às vezes, quando se estabelece uma relação muito próxima, você começa a falhar em um dos seus papéis, o de cobrar. Puxões de orelhas são necessários. Todo mundo, vez ou outra, precisa de uma chamada de atenção quando anda meio distraído com suas obrigações. Minha pior experiência foi ter que demitir um dos integrantes da nossa equipe. Passei vários dias me preparando para isso, e outros tantos para tentar superar isso. Foi a sensação mais desumana que vivi, até porque, na minha visão, não foi um decisão muito justa. Mas, como eu digo, bom é ser patrão, chefe não. Chefe sempre está num campo de batalha, com dos exércitos em constante guerra entre ele, patrão e empregados.
Para terminar – ‘o substituto’ já deve estar desesperado com a minha demora em escrever este texto - queria agradecer a todos com quem eu tive a oportunidade de dividir experiências. Por menores que tenham sido, para mim significaram muito. Primeiramente à minha família, que sempre me deu muita força para continuar firme, aos amigos, pelo companheirismo, e a quem hoje não se encontra ao meu lado, mas que serei eternamente grato por tudo que fez. À equipe do JSBA por todo apoio, paciência e dedicação. À diretoria do jornal pela confiança, por permitir meu horário flexível e me dar o sábado livre e, principalmente, pelos pagamentos sempre em dia. E quero agradecer profundamente a você, leitor, que por tanto tempo me deu a oportunidade de estar ao seu lado, contando novas histórias, relatando fatos importantes, mostrando a realidade, fosse alegre ou não. Obrigado pela companhia e por sempre relevar as minhas falhas.
Não sei como será a partir da próxima semana, quando eu não precisar mais acordar cedo, quase de madrugada (lá pelas 9h), para vir trabalhar. Quando eu não tiver com quem passar o dia dando risadas das coisas mais inúteis possíveis. Quando não tiver uma garrafa de café a dois metros da minha mesa, e quando não tiver alguém para pedir que pegue o café pra mim, porque está longe. Quando não tiver que passar o dia ouvindo Bruno e Marrone, Eduardo Costa ou Júlio Nascimento. Quando eu não tiver alguém para contar as minhas histórias, e ouvir as histórias desse alguém. Quando eu não tiver que fazer vaquinha pra comprar uma Coca, ou colocar umas moedinhas no porquinho da confraternização. Quando não sentir vontade de esganar alguém... enfim, acho que ficarei bem, apesar da saudade que sentirei de todos, por ter convivido e dividido tantos bons momentos. Seu Júlio, Jô, Lorena e Seu João, com quem passei mais tempo, obrigado por tudo. Aos outros, com quem a convivência foi menor, e com quem aprendi tantas coisas, desejo sempre sucesso. Continuem forte na luta. Ao Ben, meu profundo agradecimento por ter aceitado o desafio. Ao Raimundinho, pelas missões secretas realizadas. E, claro, à Rosa, por fornecer todas as manhãs o nosso combustível (café). Confesso que eu mais bebia do que trabalhava. E claro, a quem já passou por aqui e, mais do que grandes profissionais, se mostraram grandes amigos. Carregarei vocês para sempre em meu coração. Aos correspondentes de outros municípios, obrigado pelo companheirismo e empenho, apesar de sempre darem bastante trabalho, e entregarem o material quando o deadline já tinha ido pro espaço...
Como este é o meu último editorial, não queria parar de escrever, para que este momento não tivesse fim. Mas o meu editor já está meio impaciente, com a barriga roncando de tanta fome, e não acho que seja justo com ele, afinal já estive na pele dele, e sei que ele já deve ter pensado em 10 maneiras diferentes de como me matar. E como eu não quero que isso aconteça, vou ficar por aqui.
Mais uma vez, muito obrigado! Forte abraço.

Super propaganda do Jornal.

Um dia normal de trabalho...

Outro dia normal de trabalho...

Vaquinha pra cortar a juba

Homenagem do Banco da Amazônia

Homenagem do Corpo de Bombeiros 

Ensaio Fotográfico I

Ensaio Fotográfico II
Ensaio Fotográfico III

Protesto #ogiganteacordou

Jogo do Brasil na Copa das Confederações

Churrasco com o povo do jornal

Outro povo do jornal

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Histórias da Dona Márcia II

Lugar na fila




Este ano o Seu Luiz passou o Dia dos Pais distante de nós. Ele teve que viajar bem no dia 11 de agosto. Por ser uma data tão especial, não podíamos deixa-lo ir sem que ganhasse algum presentinho.
Então, na véspera, eu, meu irmão e minha mãe fomos à caça de algo do agrado do Seu Luizão (o que não é tão simples).
Acabamos chegando à Yamada. Estava uma loucura. Pior que a bagunça do local, com as coisas todas jogadas pelo chão, era o nível da beleza humana encontrada ali. Sem exagerar, parecia que estávamos no show do Zezé Di Camargo e Luciano. Filas gigantescas de gente feia. E bote feia nisso.
Eu e meu irmão escolhemos os presentes que daríamos ao véinho e, depois, tentamos localizar a Dona Márcia. Após alguns instantes, ela aparece.
- E aí, mãe, bora?!
- Já escolheram os presentes?
- Já. A senhora também vai dar presente pro pai?
- Não. Esse aqui é pra mim... – disse, sorrindo com os olhos.
- O negócio é encarar essa fila.
- Não precisa, Jo, eu tenho um lugar naquela outra fila.
- Tem?! Então bora lá. Qual é o lugar da senhora?
Ela prontamente respondeu:
- Tenho. Eu sou a última da fila.
Eu e meu irmão não aguentamos. Caímos na gargalhada, no meio de todo mundo, naquela loja lotada.
- Mãããe, quer matar a gente de rir?! Se a senhora é a última, a senhora não tem lugar. Melhor a gente ficar nessa aqui mesmo.
- É claro que eu tenho. Eu tô atrás daquela moça morena, magrinha, da blusa azul, que é a última da fila. Lá que é o meu lugar.
Bem que eu e meu irmão nos esforçamos para enxergar a tal blusa azul, mas sabe como é, o daltonismo de vez em quando nos atrapalha.
Acabamos ficando na fila em que já estávamos, apesar de o lugar maravilhoso que a mamãe tinha conseguido...
Desta vez a história aqui relatada não precisou da ajuda da minha imaginação. Então, Dona Márcia, a sra. não tem motivos para ficar brava comigo. Afinal, eu te amo!

Dona Márcia em sua passagem pelo Caribe

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Histórias da Dona Márcia I

Pizza de vento


Passava um pouco da meia noite quando meu irmão resolveu mandar uma mensagem para nossa mãe.

- Véinha, prepara uma pizza aí que a gente tá chegando.

Antes de irmos para casa, fomos a um mercadinho comprar refrigerante para acompanhar.

Ao chegar em casa, encontramos a cozinha vazia. E, o pior, sem sinal da pizza.

- Mãe!!! – gritamos, carinhosamente.

Após alguns instantes, escutamos a Dona Márcia descendo as escadas.

- Recebeu o nosso recado?

- Recebi... mas achei que era brincadeira.

- Mãe, não se brinca com fome.

- Se quiserem, eu faço agora, bem rapidinho...

- Claro que a gente quer. Compramos até refrigerante.

3 minutos depois.

- Não precisa colocar calabresa, né?

- Não, mãe. O que der menos trabalho pra senhora.

2 minutos depois.

- Vão querer azeitona? Tem na geladeira, mas já tá acabando.

- Não, mãe. Pode ser sem azeitona.

1 minuto depois.

- Tem pouco queijo... precisa colocar?

- Pow, mãe. E existe pizza sem queijo? Então nem precisa colocar nada, a gente come só a massa.

- Sério? Que bom. Já ia falar que não tinha molho mesmo...



Antes que eu receba umas boas palmadas da minha amada mãe, vou logo alertando que, talvez, nem todos os fatos da história narrada acima sejam verídicos. Minha imaginação pode ter dado outro rumo aos acontecimentos...

Já posso sair do castigo, mamãe?

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mais um dia perdido


Quando acordo já está passando das 17h. Abro meus olhos e vejo, pela TV, Corinthians e São Paulo empatando em 0 a 0. Mexo-me na cama e sinto um objeto nas minhas costas. É o meu celular. Dou uma olhada nele, confiro as novidades. Nada além de mensagens de ‘bom dia’. Minha cabeça está latejando. Minha garganta, seca.

Levanto, vou até a cozinha. Tomo um gole de café, o resto da caneca eu jogo fora. Já está frio. Abro as panelas em cima do fogão. Hoje o almoço foi macarrão com frango. Estou sem fome, mas mesmo assim vou comer. Não preciso estar com fome para comer macarrão.

Vou tomar banho. Depois, ligo meu PC, tenho um TCC para terminar. Pra falar a verdade a minha cabeça começa a doer ainda mais só de pensar em mexer nesse projeto. Queria que tudo isso acabasse logo e eu me visse livre desse peso. O que me anima é pensar que falta apenas um mês para que tudo isso chegue ao fim. Mais um mês...

Abro meu email. Nada de importante. Abro meu Facebook. Nada de interessante. Abro meu TCC. Nada de estimulante. Olho para o lado. Vejo A AUTOESTRADA, um livro que comecei a ler dias atrás. Olho pra tela do meu DELL. Tenho que terminar o TCC, tenho que terminar... pego o livro. Procuro a página em que parei. É a 128. Não cheguei nem na metade da autoestrada. Começo a ler.

Ouço passos na escada. Em seguida, aparece a minha mãe. Ela vê a minha caneca ao lado da cafeteira e pergunta se eu quero que ela passe um café. Com toda a certeza.

Leio 19 páginas. Não consigo continuar. Estou com um tédio mortal. Deixo o livro de lado. Volto a atenção para o PC. Vou de aba em aba à procura de alguma coisa que me distraia. Coloco uma música para tocar. Encho minha caneca de café pra acompanhar.

Pego meu celular. Respondo algumas mensagens. Não estou com muito ânimo pra conversar. Deixo meu celular de lado. Encho minha caneca, novamente.

Retomo meu TCC. Faço algumas modificações. Mudo isso, mudo aquilo. Não tô com cabeça pra isso. Abando o projeto mais uma vez. E encho minha caneca, outra vez.

Dou uma olhada no Facebook, curto umas postagens interessantes – uma raridade. Converso, pelo bate papo, com duas amigas que moram fora. Abro o WORD. Tento começar a escrever um texto. Digito algumas palavras. Desisto. Volto ao Face, continuo a conversa. Pego a caneca e coloco mais um gole de café.

Minha mãe esquenta a janta. Como moderadamente.

Volto ao PC. Abro outra página no WORD. Tento escrever outro texto. Digito algumas frases, mas não consigo continuar. Que tédio! Desisto da missão.

Tomo outro banho. Volto ao PC. Começo a assistir uma série. Dois minutos. Esse é o tempo que eu assisto. Pego meu celular. Abro o WHATSAPP, não puxo conversa com ninguém. Deixo meu celular de lado. Olho pela janela, está uma escuridão sem fim. Já passa da meia noite.

Abro mais uma vez o WORD. Começo a escrever este texto. O nome já diz tudo: MAIS UM DIA PERDIDO. Hoje eu não fiz nada de interessante (talvez este texto), não conheci ninguém diferente, nem saí de casa! Simplesmente desperdicei um dia de vida à toa. Deixei o tédio me consumir. Isso não vai mais acontecer.

Abro o Face, dou uma olhada. Fecho a página. Pego o celular, nenhuma mensagem nova. Vou à cozinha, abro os armários, mas o dia está tão ruim que não encontro nada. Volto ao PC. 

Posto o texto.

Tédio, vai embora, por favor... 

sábado, 27 de julho de 2013

É, amigo... o tempo passa


Julho sempre foi sinônimo de férias. Sempre, até a gente se tornar grande e assumir responsabilidades que não permitem mais que isso aconteça.

Quinta-feira, quando eu estava voltando para casa, na hora do almoço, comecei a lembrar do tempo em que eu era estudante. É engraçado como a gente consegue lembrar cada detalhe que, na época, parecia insuportável. Apesar de sempre ter sido um bom aluno, nunca gostei muito de escola. Nas primeiras séries eu ia chorando. Só ficava na sala se, através da janela, eu visse a minha mãe. O tempo foi passando, fui me acostumando à ideia, mas, mesmo assim, não nutria grandes amores pela escola. Acho que até por isso eu me esforçava tanto para conseguir boas notas e passar direto. Seria tortura demais ter que perder um bom tempo das minhas férias preso em uma sala de aula.

Até hoje eu sei exatamente o cheiro que tinha o prédio em que eu estudei a 4ª série. De vez em quando me vem à lembrança tudo o que eu passei naquele local. Lembro que eu sempre estudava muito para as provas. E quando achava que não ia conseguir tirar uma boa nota, caía no choro. Não raramente, eu passava a noite chorando. Mas isso não durou muito tempo. Lá pela 6ª série eu tirei a minha primeira nota vermelha. Em Português, matéria que eu sempre prestei atenção. Depois daí eu não fui o mesmo. É claro que continuei sendo um bom aluno, no entanto eu comecei a perceber que havia coisas mais interessantes na escola do que só estudar.

A minha grande mudança foi quando cheguei ao ensino médio. Lá, sim, eu passei por uma revolução. Deixei de ser aquele moleque do sítio, todo quietinho, com o cabelo lambido de vaca, para ser alguém mais... autêntico.

Ao chegar à universidade eu passei por outro ‘upgrade’. Ali eu comecei a conviver com pessoas das mais distintas realidades. Era uma mistura de gente jovem com gente experiente. De gente frustrada com gente sonhadora. Um recorte de mundo que me fez crescer e amadurecer. Lá, também, sempre fui um bom aluno. Só depois da metade do curso que eu dei uma relaxada e acabei não me dedicando tanto quanto deveria. Mas, valeu.

Depois que a gente sai da universidade, tudo o que deseja é conseguir o primeiro emprego. A ideia de ser independente, de começar a construir a própria vida, de poder ter os próprios recursos, acaba invadindo a gente de tal maneira que fica difícil pensar em outra coisa. Você já começa a pensar em comprar um carro, a trocar de celular, a sair de casa... e esse ciclo nunca vai parar. A partir do momento em que você der o primeiro passo, vai ver que as circunstâncias vão exigir que você dê o segundo, o terceiro... quando se der conta, já vai estar lá no meio do caminho, apenas sobrevivendo, perdido em meio a tantos pensamentos, e sem saber o que fazer.

É aí que você vai tentar se lembrar de quem você era, dos sonhos que tinha, e de como chegou até ali... é aí que você, num dia de chuva, quando estiver voltando para casa, vai se recordar do tempo em que era apenas uma criança. Em que o mundo era todo colorido e grande o suficiente para abrigar todos os seus sonhos. É aí que você vai se tocar que julho não significa mais nada para você. Que você já não tem aquela liberdade de chutar os seus problemas como se fossem uma bola de futebol, ou ver o seu maior desejo ganhar vida no céu, como se fosse aquela pipa que por tanto tempo te acompanhou... é aí que alguém vai virar para você, com os olhos cheios de lágrima, e dizer: “é, amigo... o tempo passa”.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Perdemos a essência


No Facebook:
- Tão reclamando do dinheiro que o governo está gastando com o Papa? Não sei porque... afinal, a maioria da população é Católica, nada mais justo do que gastar esse dinheiro.

- Sendo assim, por que reclamaram do dinheiro gasto com a Copa? A maioria dos brasileiros é apaixonada por futebol, logo, nada mais justo do que gastar esse dinheiro.
- Lá vai... o que que tão falando do Papa? Porque tudo o que os pastores querem é se aproveitar dos fiéis e promover a sua imagem. Só andam de carrões, jatinhos e se hospedam em hotéis cinco estrelas. Olha só o caso do Feliciano, já quer ser até presidente da República...
- Querem falar de dinheiro, é isso mesmo?! Rá rá. Por acaso não é a Igreja Católica a mais rica do mundo? Ou já se esqueceram da história? Pois eu, não. Sempre se aproveitou do povo para enriquecer... não é à toa que até hoje ostenta tanto luxo e poder. Já enganaram as pessoas por muito tempo, mas agora o jogo está mudando. Ano após ano o número de fiéis está diminuindo... menos fiéis, menos poder, menos dinheiro...

- E a cada dia os pastores estão mais ricos, mais poderosos... tudo às custas dos fiéis. Prometendo milagres, curas, libertações. O que tem de pastor pilantra... O que tem de pastor cometendo adultério...
- E o que tem de padre pedófilo... e o que tem de padre gay...
- E o que tem de filho de pastor perdido, drogado, caloteiro...
E assim vai...

O amor de Deus é a única coisa que nos faz viver. Por amor a nós, pecadores, Ele deu o seu único filho para morrer naquela cruz. Ele não nos separou em grupos. Não fez distinção entre Católicos, Evangélicos, Espíritas, ateus... Ele não escolheu a quem dar a chance de uma nova vida. Ele deu a mesma oportunidade a todos. Aos que acreditavam nEle, aos que xingavam Ele, aos que negavam Ele. Todos tiveram a sua chance. Ladrões, assassinos e todo tipo de gente.

Por isso eu acho incrível a capacidade que nós temos de, nos dias atuais, pegar a Palavra de Deus e jogar no lixo. Não fazer o que Ele nos ensinou, ou pior, fazer tudo aquilo que Ele disse para não fazermos. Deus não é Católico, Deus não é evangélico, Deus não é espírita. Deus é Deus. Por que, então, em vez de fazer a missão que Ele nos deixou, perdemos tempo semeando a discórdia entre irmãos, numa disputa sem-fim em busca de poder e reafirmação? Por que sempre queremos ser um melhor que o outro, se, diante de Deus, somos todos iguais?

De uns tempos para cá essa situação ‘religiosa’ está se tornando um verdadeiro pé no saco. Católicos de um lado, Evangélicos de outro. E no meio dos dois, uma multidão de gente. Muitos que abrem a boca não porque tenham alguma mensagem interessante para falar, mas porque não sabem ouvir. A vinda do Papa ao Brasil, assim como o aumento das passagens em R$ 0,20 lá em São Paulo, foi a gota d’água, pra mim.

Já tá na hora de acabar com esse joguinho besta entre religiões. Aliás, já tá na hora de pararmos de pensar que a religião nos garante alguma coisa. Na verdade, a principal coisa que ela faz é nos cegar. Cegar dos princípios de Deus, cegar do amor ao próximo, cegar da verdade.

Religião não salva, quem salva é Deus. Não temos que fazer o que o pastor A falou, ou o que o padre B disse. Temos que seguir o que Jesus nos ensinou.

Por que não paramos de falar um pouco e prestamos mais atenção na mensagem que o Papa está transmitindo? Sim, por que não? E por que não podemos refletir no que o pastor tem a dizer, antes de condenarmos todos, como sendo iguais?

É que claro que as diferenças vão existir. E é até bom que existam. Na diversidade aparece a verdade. Até porque dentro dos semelhantes, há os diferentes. Dentro das doutrinas evangélicas, há inúmeros ensinamentos que se diferem. Batistas pensam diferente dos Assembleianos, que agem diferente dos Presbiterianos. E assim vai. Não adianta juntar tudo e dizer que são todos iguais.
Respeito é o mínimo que devemos ter. Respeito com todos, sem exceção.

O tempo em que perdemos trocando farpas uns com os outros, poderíamos estar investindo naquele morador de rua, solitário, precisando de uma companhia. Ou quem sabe naquela jovem mãe solteira que está precisando de ajuda, mas que a Igreja virou às costas pra ela. Ou naquele idoso que não tem ninguém para conversar, apenas passa seus dias à espera da morte. Ou, quem sabe, naquele jovem enfiado nas drogas...

Jesus, mesmo sabendo das piores coisas das pessoas, ainda assim Ele as amava. Ele via o fio de vida que estava escondido em cada uma delas. Ele não julgava, Ele não excluía. Ele trazia para perto de si e torna-se amigo delas. “Bonito é a amizade que nasce a partir da precariedade”, disse alguém, certa vez.

Jesus chocou o mundo religioso da sua época. Ele deu o exemplo. Acho que já está na hora de seguir...

Bom, essa é a minha opinião.

Enquanto isso, no Face...
- Vocês ouviram? O Papa é contra o casamento gay. Isso mesmo, ele é contra! Rá rá rá. Não vão falar nada? Não vão chamá-lo de homofóbico? Hein, vão não? Sabe como é... o Feliciano disse a mesma e quase foi apedrejado...

terça-feira, 23 de julho de 2013

Nunca se falou tanta besteira

 
Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas falam, mas menos elas dizem. Nunca fui um grande fã do Facebook, mas também nunca deixei de usá-lo (quer dizer, teve uma vez sim, mas não fiquei mais do que seis meses longe). Entendo que tudo tem a sua razão de existir. O Facebook é uma ótima ferramenta, não posso negar, desde que seja usado de forma apropriada. Assim como uma espingarda. Ou uma urna eletrônica. Não há distinção entre eles. Ao mesmo tempo em que podem ser uma coisa boa, também podem não ser. Tudo vai depender do modo como se opera a coisa. Aí é que a questão fica um pouco mais complicada. Cada cabeça, uma sentença, não é? Cada um julga as suas ações como quiser. O que é certo para mim, pode não ser para você.

Bom, por hora vou esquecer as armas e as urnas. Quero escrever sobre uma coisa que há tempos está entalada em minha garganta, mas que eu engolia em vez de por tudo para fora. Quero refletir sobre a capacidade de perder tempo com besteiras.

Um belo exemplo é você, que está perdendo preciosos segundo de vida lendo as asneiras que eu escrevo. 

O Facebook é o celeiro da idiotice. Nunca vi um lugar para reunir tanta gente à toa para falar de tanta coisa desinteressante. Até por isso reza a lenda que quem tem ocupações no mundo real, dificilmente perde seu tempo no Face. É só observar. Quem tem uma vida real, quem trabalha duro, quem rala nos estudos, quem se dedica a alguma coisa, raramente vai estar ‘on’ para colocar as fofocas em dia, ou para compartilhar o pensamento de A ou B. (Eu sei que você é exceção, tá? Este parágrafo foi uma mera coincidência).

Com os protestos surgidos no último mês, muito se falou do poder das redes sociais para mobilizar e unir as pessoas em torno de uma mesma causa. Diziam que a internet seria o grande trunfo desta geração que teria armas suficientes para bater de frente com o sistema e com as grandes mídias. No entanto, tenho um pensamento bem diferente desse. Acredito que com o avanço da internet até os confins da terra, abrangendo uma enorme fatia da população, o jogo de manipulação se tornou muito mais fácil.

Tanto é que qualquer besteira postada por algum perfil influente, ganha destaque internacional, com milhares de compartilhamentos e curtidas. Falando a verdade, menos de 10% dos usuários do Facebook tem neurônios suficientes para refletir sobre a onda em que navegam. É difícil você encontrar um ser pensante nesse mundo virtual. O que tem de sobra são os reprodutores dos hits do momento. É só algum assunto estar no auge que a boiada segue fielmente até o matadouro sem se dar conta da realidade.

Na época dos protestos que percorreram o Brasil, o Facebbok, o Twitter e o Instagram ficaram uma beleza. Todo mundo compartilhou #foradilma #ogiganteacordou #chupafeliciano... endeusaram  Joaquim Barbosa, colocaram os problemas centenários do país na costa da Copa do Mundo... e assim foi. Tempos depois, os mesmos que embarcaram nessa viagem sem destino, apenas levados pelo impulso de estar na moda, estavam desmentindo tudo aquilo que disseram. A partir desse momento, Joaquim Barbosa não era o homem íntegro de dias atrás. Não era mais o candidato ideal para assumir a presidência. O que mudou? Bastou algumas notícias circularem pela rede e uns babacas que nem sabem escrever o próprio nome compartilharem aquilo para que a ovelha se transformasse em lobo?

O que custa pensar? Por que o ser humano reluta tanto em usar o cérebro? Será que o Globo Repórter explica isso? (Que sem graça isso, eu sei).

Fato é que não tem coisa pior para perder o nosso tempo do que usar o Facebook. A cada dia o nível piora. Piora tanto que você fica até com medo de postar aquilo que acredita ser verdade, porque 90% dos usuários ali dançam conforme a música. Não adianta querem abrir os olhos dos outros. O melhor que temos a fazer é fechar a nossa boca.

Quando o papo é política, a situação foge ao controle. Dificilmente você vai ver alguém que veste vermelho, elogiar alguma ação dos que usam o amarelo como cor predominante. E vice e versa. E os que só falam mal dos dois é, porque, queriam estar no lugar deles e fazer as mesmas coisas que eles.

Não é à toa que política e religião não se discute. E isso acontece porque as pessoas estão tão envolvidas em suas causas que chega um momento em que deixam de enxergar a realidade. Simplesmente ficam cegas. E quando surge algo do qual sabem que está errado, usam dos mais diversos artifícios para tentar encobri-lo. Acham que são os melhores, ofendem os que julgam ser piores. Tudo para manter sua posição, ampliar seu território e adquirir mais poder.

Seja por má intenção, ou por ingenuidade, não há como conversar com alguém que não se permite abrir a outras possibilidades, que não consegue, ou não quer ver as coisas que o cerca.

E, como manda a regra, deixe que morram pela boca. Quem muito fala, nada tem a dizer. Eu, por exemplo, escrevi mais de 5 mil toques, e não disse o que queria dizer. Me enrolei lá pelo meio e saiu essa beleza aí. Mas, quem sabe, um dia eu aprenda.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Qual a minha cor?

Hoje eu fui ao Ministério do Trabalho e Emprego para solicitar a segunda via da minha Carteira de Trabalho já que a primeira, de uma forma mágica, sumiu da minha casa acompanhada de outros importantes documentos. Aguardei a minha vez, apresentei o que foi solicitado e, já no final do atendimento, a senhora (muito simpática, por sinal) perguntou:

- Qual a sua cor.

Eu olhei para os meus braços, refleti um pouco e disse:

- Não sei. Que cor a senhora acha que eu tenho?

- Não posso te ajudar. Você que deve dizer qual a cor que você se considera, não posso interferir – respondeu a senhora.

Pensei mais um pouco...

- Olha... não sei... tô meio amarelado... precisando de um sol... acho que sou amarelo... é, acho que é isso... sou amarelo.

- Tudo bem, vou colocar ‘branco’ aqui.

É claro que eu não disse para a senhora que eu sou daltônico e, por isso, precisava de uma ajudinha...

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Na hora do almoço, em casa, contei o episódio aos meus pais e ao meu irmão. Discutimos o assunto, mas não chegamos a uma conclusão. Afinal cada um tem a sua verdade e não abre mão. Eu estava insatisfeito com o fato de ser considerado branco, por não ser literalmente branco. Nem o meu sorriso é branco, é meio amarelado, igual a mim.

Fiquei com isso (e estou até agora) na cabeça. Procurei o amigo Google para ver se ele me tirava a dúvida. E, por meio dele, encontrei a definição de cores estabelecida e utilizada pelo IBGE. No entanto, a definição é tão sucinta que sempre vai me ressuscitar a dúvida. A explicação é a seguinte:

“COR OU RAÇA É: Leia as opções de cor ou raça para a pessoa e considere aquela que for a declarada. Caso a declaração não corresponda a uma das alternativas enunciadas no quesito, esclareça as opções para que a pessoa se classifique na que julgar mais adequada. Assinale a quadrícula, conforme o caso:
1 - BRANCA - para a pessoa que se enquadrar como branca;
2 - PRETA - para a pessoa que se enquadrar como preta;
3 - PARDA - para a pessoa que se enquadrar como parda ou se declarar mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça;
4 - AMARELA - para a pessoa que se enquadrar como amarela;
5 - INDÍGENA - para a pessoa que se enquadrar como indígena ou se declarar índia;
Esclareça à pessoa, quando necessário, que a classificação amarela não se refere à pessoa que tenha a pela amarelada por sofrer de moléstia como empaludismo, malária, amarelão, etc. A classificação Indígena aplica-se aos que vivem em aldeamento como, também, aos indígenas que vivem fora do aldeamento.”
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Li. Adiantou de nada. É aquela coisa, eu sou da cor que me considerar, mas se eu me considerar de uma cor diferente da que sou, não posso ser considerado da cor que eu acho que sou.

Bom, vou tentar esclarecer a minha dúvida. Deixa eu perguntar para minha colega de trabalho.

- Hei, Fulana, qual é a minha cor?
- Você é branco, pô. Tem nem o que discutir.
- Tem certeza? Não sou meio amarelado?
- Tá doido?! Você é branco. Só tem branco, pardo e preto. Pardo e preto você não é.
- Qual a sua cor?
- Eu sou parda.
- Tá bem... obrigado.

Passou algum tempo. Continuei refletindo sobre isso.

- Hei, Beltrana, e o Ronaldo Fenômeno, qual a cor dele?
- Branco.
- Branco?!
- É.
- Mas ele tem cabelo de preto.
- Então quer dizer que se um negão tiver o cabelo loiro ele vai ser branco?!
- Não sei... não quero saber do negão. Só quero saber qual a minha cor.

Passou mais algum tempo...

- Hei, Cicrana, qual a minha cor?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

352 anos. Já está na hora de mudar.



É com muita alegria que comemoramos mais um aniversário desta cidade amada. Agora, já se somam 352 anos de história. Três séculos e meio de muita luta, opressão, exploração. Mas também de muitas alegrias e vitórias. Sempre tenho a esperança de que, a cada ano, esta cidade, que um dia foi chamada de Pérola do Tapajós, consiga alcançar seu lugar ao sol.
Mas ainda estamos longe disso. Em pleno século 21 ainda carecemos de necessidades básicas. Os mesmos problemas que os primeiros moradores desta terra conviveram. Apesar de já se terem passado tanto tempo, em muitas áreas estagnamos. Em outras tantas, regredimos.
As problemáticas são as mais diversas. Ainda não conseguimos ter um serviço eficiente de abastecimento de água. Nem de fornecimento de energia. Ainda não conseguimos aliar o progresso à conservação ambiental. Nem criar meios de desenvolvimento permanente. Até hoje baseamos a nossa economia aos vários ciclos por quais passamos. Infelizmente, como o nome diz, não duraram muito tempo, apenas o necessário para criar uma triste ilusão e contribuir para aumentar ainda mais o abismo social.
O que dizer de ainda não termos um porto decente? Ou de conseguirmos acabar com as invasões e proporcionar um crescimento ordenado, bom para todos? O que falar sobre a nossa insegurança? Ou sobre a educação e a saúde?
Sempre acho importante a passagem desta data para podermos analisar como está o município. É claro que temos de fazer festa para comemorar um marco como este, no entanto, também vale fazermos uma profunda reflexão. Creio que os protestos realizados aqui, na última quinta-feira, já mostraram que o povo não é mais o mesmo. Esperamos que os políticos também não.
 
 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quando vamos estar preparados para as mudanças?

 
Mudar é inevitável. Por mais que nos prendamos a nossas mais profundas raízes, mais hora ou menos hora somos obrigados a mudar. Esse é o curso natural da vida. Nada dura para sempre. Tudo dura o tempo que tem de durar, não é o que dizem?
 
Todo mundo tem o sonho de se fixar. Seja em uma carreira, seja em um relacionamento, seja em uma cidade... o grande sonho do brasileiro, por exemplo, é a conquista da casa própria. Ter um espaço para chamar de seu. Ninguém gosta de não ter o próprio cantinho. Aquele para você chegar todo dia depois do trabalho, se refugiar quando um temporal cair ou apenas para cultivar algumas flores no jardim. Poucos são os que não lutam para conquistar isso, os que se acomodam de não saber quais serão as coordenadas que o destino vai traçar no dia de amanhã, que não se importam de não ter um lugar para chamar de lar. Mais uma vez, não queremos mudanças.
Um dos maiores desafios é traçar a carreira profissional. É definir o que ser ‘quando crescer’. Por isso que muita gente vive mudando de colégio, de cursinho, de curso, de faculdade. Mas uma hora, quando essa tal pessoa descobrir o que realmente quer, não vai mais querer saber de outra coisa. E a partir daí, as mudanças não serão bem vindas. Tem, também, aqueles que já nascem sabendo o que querem. Despertam desde cedo o desejo de se tornar professor, piloto, jornalista... ou os pais despertam o desejo neles de se tornarem médicos, advogados, engenheiros...
 
Depois de formado, a luta é para entrar no mercado de trabalho. Conseguir um bom emprego, participar ativamente da empresa, crescer profissionalmente... depois que chegar ao topo, ou ao cargo almejado, ou ainda montar o próprio negócio, a mesma rotina permanecerá por anos e anos. Todo dia fará a mesma coisa, terá o mesmo campo de atuação, sem mudanças, tudo igual.
 
No campo sentimental é a mesma coisa. O sonho de todo mundo, seja homem ou mulher, rico ou pobre, preto ou branco, bonito ou feio, (e por aí vai) é encontrar a sua alma gêmea, unir o príncipe à princesa, o mocinho com a mocinha, o Romeu e a Julieta (e por aí vai). Os livros, os filmes, as músicas... Tudo faz com que as pessoas pensem que em algum lugar do mundo, alguma esquina da vida, alguma fila de banco, algum show sertanejo, alguma aula prática, algum passeio no bosque vai fazer você conhecer a pessoa que nasceu para ser sua. Muitos saem à procura, tentando encontrar desesperadamente, outros nem se preocupam com isso. Mas, fato é, que qualquer dia, quando menos se espera, um anjo aparece à sua frente e, na mesma hora, você sente que essa é a pessoa com quem você quer passar cada segundinho da sua vida. O tempo passa, vocês se casam... e tudo fica normal.
 
Mas, seja em qual área for, menos hora ou mais hora, um terremoto vai chacoalhar a sua estrutura. Você vai começar a pensar em mudanças... já está cansado dessa mesma vidinha. De ter que acordar cedo, passar o dia trabalhando, e quando chegar em casa ainda ter que aturar aquela pessoa com quem se casou (o anjo virou dragão). Ou, pior ainda, o furacão passa pela sua vida devastando tudo o que tinha, arrancando suas raízes, te jogando para o alto. Sabe aquele emprego dos sonhos, que você sempre desejou e ralou tanto para conseguir? Pois é, sua demissão chega. Ou a mulher da sua vida, aquela que você sempre fez de tudo para agradar, esqueceu do mundo para viver para ela, abriu mão das suas necessidades para suprir as dela. Lembra dela? Então, assim do nada, ela sumiu da sua vida. Disse que não dava mais e zarpou da sua frente.
 
Como reagir a tudo isso? Como estar preparado para essas mudanças que parecem roubar a sua alma, a sua vida?

Querem a resposta? Eu procurei no Google, mas não achei nada apropriado... então, meu conselho, é que você encontre o seu próprio caminho, até porque, na verdade, nunca vamos estar preparado para isso. Por mais que achamos estar, a realidade é bem diferente do que a nossa imaginação. O importante é aprender a lição, por mais amarga e dolorida que seja. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um pobre solitário



Pela primeira vez em muito tempo estou passando o Dia dos Namorados sozinho. Não sei se estou reagindo muito bem a isso, afinal, por mais que as pessoas digam o contrário, ninguém gosta de estar solteiro. Principalmente em uma data como esta, né?
Parece que o mundo para para viver o 12 de junho. Nas propagandas de TV, nos filmes, nas trilhas sonoras, nas redes sociais... será que não tem algum outro assunto mais interessante para se falar? Sei lá, alguma nova guerra eclodindo no mundo, a crise na Europa, um novo escândalo de um famoso?
O que tem de especial nesse dia? Nada... Até porque, na maioria dos casos, os namoros não são aquela maravilha toda passada pelos filmes românticos e cantadas pelos boêmios. Aquela melosidade toda, aquela bajulação, beijinhos e abraços não resistem a mais do que dois anos. No começo vocês podem até comemorar indo a um rodízio de sushi ou qualquer outro restaurante que proporcione momentos marcantes, únicos e apaixonantes. Mas, como tudo na vida, isso uma hora tem fim. Vai ver, tempo depois, que tudo aquilo que foi dito, sonhado e acreditado, não passou de ilusão. Que as pessoas não fazem ideia do que é o amor, e por isso enganam a si próprias e as outras, como se isso fosse algum tipo de brincadeira.
Enquanto você faz parte do jogo, tudo é lindo. No entanto, uma hora você vai ter que acordar e, ao despertar, vai ter um choque cruel com a realidade. A partir daí vai começar a rever um monte de conceitos que, na sua cabeça de paspalho, já estavam formados. Vai cair de joelhos no chão e ver, como se dizem, que o buraco é bem mais embaixo. Vai começar a duvidar do amor, dos relacionamentos, de você mesmo... Vai deixar o cabelo crescer, a barba dar nó. Um tempo depois vai começar a andar igual hippie. Quando se der conta, já vai estar jogado pelos bancos da praça, mendigando além de um pedaço de pão, um pouco de amor e atenção.
Não que eu esteja assim, longe disso. Estou bem pra caramba. Mas, caso alguma princesa esteja lendo este texto e queira fazer alguma caridade neste Dia dos Namorados, pode me procurar. Prometo tentar ser uma boa companhia e viver uma doce e mágica ilusão. Vou ser um verdadeiro príncipe, com direito a flores, champanhe e algumas cositas mas. Não custa tentar, né? Vai que dessa mentira brote alguma verdade...

terça-feira, 4 de junho de 2013

A febre das redes sociais


Nos tempos atuais só é gente quem está conectado. Lá, no Facebook, Twitter, Instagram e semelhantes, você é quem e o que quiser. Poucos o conhecem, então, por isso, você acaba tornando-se refém do seu perfil. Você será, a partir do momento em que ingressar em algumas dessas redes, aquela pessoa que os outros veem, e não você mesmo. E tem gente que leva isso muito a sério.
É difícil dimensionar qualquer coisa baseado na internet, já que é algo muito dinâmico e imprevisível. Toda semana um novo aplicativo é lançado, uma nova plataforma é criada... A única projeção que se pode fazer com certeza é de que, a cada novo dia, mais pessoas estão se conectando. E isso vai continuar aumentando até que quase todo mundo tenha acesso a essa grande rede. Até por isso os governos têm trabalhado bastante para conseguir formas de promover a inclusão digital.
Hoje, em pleno século 21, é impensável alguém viver sem acesso à internet. Os que já provaram da viagem fascinante proporcionada por ela, dificilmente conseguem tirá-la do seu dia-a-dia. Assim como pode ser uma grande aliada, pode, também, ser uma pedra bem grande no caminho de algumas pessoas.
Assim como tantas outras coisas, a internet é apenas uma ferramenta, um instrumento na mão do usuário. Como será usada, depende exclusivamente dele. Ela, então, não pode ser julgada como culpada ou inocente, já que não tem vontade própria.
Os benefícios são enormes. Com aplicativos como o Skype, WhatsApp e Zello Walkie Talkie, por exemplo, é possível se comunicar com qualquer pessoa, independente da localização no planeta, e de forma gratuita. As únicas exigências são que você esteja conectado à internet, tenha a plataforma necessária (PC, tablete, smartphone) e tenha conta nessas ferramentas. Por meio desses aplicativos milhões de pessoas se comunicam diariamente em todo o mundo, seja por mensagem de texto, por áudio ou por vídeo. Seja a negócio, para matar a saudade dos familiares ou apenas para bater papo com os amigos.
Pelo Facebook, Twitter, Instagram e Foursquare, é possível se atualizar e atualizar seus amigos a respeito de tudo. Lá você é livre para fazer o que bem entender. As redes sociais servem como terapia para muita gente. Usam para fazer seus desabafos, para compartilhar seus problemas, para afrontar seus desafetos, para falar mal dos outros... enfim, usam para tudo.
Um dos maiores problemas é o nível de envolvimento que uma pessoa real cria com esse ambiente virtual. Milhares de pessoas deixam de viver a própria vida para assumir a sua identidade virtual, em que podem ser quem bem entenderem, sem regras, sem pressão, sem nada. Suas amizades são as mais diversas, e com pessoas que talvez nunca vão ver na vida. Lá são livres para contar as mais mirabolantes mentiras ou para dizer as mais tristes verdades, sem ninguém para julgá-las ou dizer o que é certo ou errado. Acabam abrindo mão da própria vida “aqui” para ser alguém “lá”.
Muitas questões ainda pesam sobre as redes sociais, como o direito autoral e uso de imagem, e a privacidade dos usuários. Até porque nunca se tem a dimensão exata do efeito que causa qualquer publicação em algum desses meios. A linha que divide o que é pessoal do que é público é muito tênue, e poucos sabem desse limite.