Por muitos anos a
história indígena do Brasil ficou reservada apenas à época da colonização, e
antes dela. Após isso os povos que habitaram (e habitam) as matas, vales e
montanhas do nosso território, deixaram de ser lembrados, como se não
existissem mais. Mantiveram-se vivos, somente, em livros que os tratam ora como
puros, ora como selvagens. Muitas pessoas, por isso, até imaginam que eles
fazem parte do folclore brasileiro. Mas esporadicamente são lembrados,
geralmente por conta de alguma confusão ou conflito. Agora, no dia deles, 19 de
abril, também são lembrados.
Por meio de estudos
realizados nas últimas décadas, novos fatos – ou nem tão novos assim – colocam
em dúvida tudo aquilo que foi ensinado sobre os índios nas escolas brasileiras.
Diversos pesquisadores começaram a refutar as ideias já cristalizadas sobre
esse longo período da história do Brasil.
O que a história
tradicional mostra é que os índios viviam em perfeita harmonia com os seus
semelhantes e a natureza, sobrevivendo de modo sustentável e em paz. E isso foi
alterado por conta da chegada dos europeus, que dizimaram a população indígena
com seus armamentos muito mais desenvolvidos e por meio da transmissão de
doenças, desconhecidas até então pelos nativos.
REVELAÇÕES
O livro escrito pelo
jornalista Leandro Narloch traz
fatos relevantes e surpreendentes sobre esse período. Segundo as pesquisas
apresentadas pelo autor, os massacres começaram bem antes da chegada dos
portugueses. Os próprios habitantes do período pré-colonial adoravam uma guerra.
Os índios Tupi-Guaranis, que
se localizavam originalmente na Amazônia, foram obrigados a se deslocarem rumo
ao sul, por conta de alguma dificuldade encontrada no local de origem, talvez
uma grande seca. Durante o percurso esses índios se depararam com outras
etnias, que foram massacradas, exterminas ou, as que tiveram sorte, migraram
para lugares mais distantes.
Segundo as pesquisas, em
1500, quando os portugueses chegaram, a nação Tupi, dividida em diversas
tribos, se expandia pela Amazônia, passando pelo Nordeste até São Paulo. Para
tal expansão ocorrer, muitas disputas entre si e outras etnias, foram
realizadas.
Os povos indígenas não são
todos iguais, assim como os brasileiros são diferentes dos argentinos e dos
japoneses. A expressão européia de índio,
usada para designar a população local das terras a serem desbravadas, cria a
falsa ideia de que todos os povos formam uma única nação, de uma mesma etnia e
cultura. Na época da chegada dos europeus, eles viam os visitantes com os
mesmos olhos desconfiados e alertas que viam seus povos inimigos e matavam
ambos, quando preciso, com a mesma fúria. A guerra fazia parte do calendário
indígena, salvo exceções. Para algumas etnias, matar garantia acesso ao
paraíso.
SOBERANOS?
A
realidade dos navegadores, à época, não era essa moleza apresentada pelos
livros escolares. Os portugueses não reinavam soberanos e absolutos nos lugares
em que desembarcavam. Devido ao longo período dentro das embarcações, cruzando
oceanos, eles chegavam ao seu destino com a saúde muito abalada, sendo presas
fáceis. Ainda mais em lugares onde as histórias
que reinavam colocavam medo em muitos marmanjos.
Em
relatos feitos por Américo Vespúcio, em 1501, conta que a sua tripulação passou
por apuros quando ancoraram na costa do Rio Grande do Norte. O livro de Leandro
Narloch mostra que quem
ousou, naquela ocasião, a desembarcar e caminhar pela mata, não voltou mais.
Três dias depois, índias, nuas, apareceram na praia onde a embarcação estava.
Os marujos que se aproximaram foram subitamente mortos por elas. Logo depois
saíram das matas outros índios, que estavam escondidos, lançando um número sem
fim de flechas em direção aos barcos. O próprio navegador já foi obrigado a
sair às ruas, em outras conquistas, e pedir por comida para não morrer de fome.
TRAÇANDO O PRÓPRIO FIM
Não se pode negar, também,
que com a chegada dos portugueses o cenário se transformou. Agora os índios
passariam a ter um aliado muito importante nas futuras guerras. Os europeus
faziam alianças com os caciques em troca de proteção e paz, haja vista que o
número de portugueses que desembarcava no Brasil era irrisório se comparado à
população indígena. Os índios ofereciam prisioneiros - às vezes até os próprios
parentes – em troca de mercadorias. Os recém-chegados aceitavam a troca com o
discurso de que se não fizessem, os presos seriam torturados e mortos pelos
seus capturadores.
As próprias ondas de
exploração rumo ao interior do país só foi possível ao apoio indígena, que
tinha muito mais características Tupi do que européia. Então o extermínio e
escravidão dos índios aconteceram, em grande parte, por conta dos próprios
indígenas que ofereceram apoio militar e guarda constante aos estrangeiros.