terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Lixo: de problema a solução


Em 2010, por meio da Lei nº 12.305/10, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil, que determinava, inicialmente, entre outras coisas, o fim dos lixões tão comuns no país até 2 de agosto de 2014. No entanto, apenas 40% dos municípios cumpriram a meta. A maior parte concentrada no Sul e Sudeste.

Somente em 2013 foram gerados 76 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Uma quantidade impressionante de lixo, não? E, pior ainda, é saber que boa parte desse total é destinada na natureza, em lixões a céu aberto, sem qualquer tipo de tratamento ou cuidado. Esse desleixo traz consequências irreversíveis para a natureza e, consequentemente, para o homem. Além do risco de doenças - como procriação de mosquitos responsáveis pela transmissão da dengue e proliferação de vetores de outras doenças - o chorume infiltra no solo e pode contaminar o lençol freático.

Estranho é ver que na segunda década do século 21 o lixo ainda é um problema enorme para o Brasil, enquanto que em países desenvolvidos o lixo passou de problema para solução. A Noruega, por exemplo, importa lixo de outros países para suprir as demandas das usinas de energia elétrica e térmica. Para nós, brasileiros, é quase impensável importar lixo. Em outros locais, o lixo movimenta usinas de reciclagem e de biogás ou se transforma em CDR (Combustível Derivado de Resíduo) e biofertilizante.

A construção civil gera um desperdício anual superior a 42 milhões de toneladas. Onde não há tecnologia para processar esse entulho e deixá-lo pronto para o reuso, ele é despejado na natureza, em terrenos baldios, encostas de morros e beiras de rios e igarapés.

Enquanto a mentalidade da sociedade brasileira não mudar, vamos continuar vivendo no século 21 como se estivéssemos no século 18. Resta saber quanto tempo mais a natureza vai suportar.


Arte: Revista Galileu/Editora Globo

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um dia normal



Você rola de um lado para o outro e não consegue dormir. Depois de muito tempo, o sono chega. Mas vai embora assim que a energia acaba durante a madrugada. O calor fica insuportável. Para aliviar um pouco, abre as janelas do quarto. E por elas entram várias caravanas de carapanãs. Mas o cansaço é tanto que, mesmo ensopado de suor e devorado pelos pernilongos, você dorme. E sonha. Ou pior, tem pesadelos. Você acorda. Várias vezes. E fica com raiva. Mas dorme, porque está cansado. E acorda. E dorme de novo. Dorme até o despertador começar a tocar. Você nem ouve. Ele toca de novo e de novo até você finalmente acordar. Assustado, olha a hora. E vê que já está atrasado para o trabalho. Levanta da cama com uma dor de barriga que o obriga a ir esvaziar o reservatório. Dá uma cagada rápida, mas esquece que o papel higiênico acabou. Vai tomar banho. Mas, como sempre, está sem água. Você encontra uma cueca rasgada no cesto de roupa suja. Sem outra opção, você limpa o traseiro como pode, tentando não melar a mão. Veste a roupa, passa uma dose extra de perfume para aliviar o cheiro de suor com merda, e vai abrir a garagem para sair com o carro. Sai, fecha o portão, e se dirige ao trabalho. No meio do caminho você começa a sentir cheiro de merda. O fedor só faz aumentar. “Mas eu limpei direitinho, como está fedendo tanto assim?”, pensa. Decide parar o carro. Não tem como ir trabalhar assim. Ao olhar para baixo percebe que o cheiro não vem de você, mas do seu sapato. Ao andar pelo quintal, pisou na merda do cachorro. Você desce do carro. Na ânsia de tirar a merda do sapato, dá um chute frontal no ar. A merda sai do sapato, mas faz pirueta e espirra na sua testa. Mas foi só uma parte dela. Tanto que você nem notou. Satisfeito, achando que havia se livrado do problema, volta para o carro e segue para o trabalho. “O cheiro tava tão forte que impregnou no meu nariz e não sai”, murmura. Dirige por mais uns cinco minutos até o carro estancar. Por sorte está em uma descida. Tenta dar um tranco. Nada. Na banguela, encosta o carro. Quando para é que vê que o marcador já está na reserva. “Maldição, acabou a gasolina”, esbraveja. Pensa em continuar o percurso a pé, mas como já está atrasado, decide pegar um mototáxi. Chama o primeiro que aparece. Diz para onde quer ir e põe o capacete. O calor está escaldante. Sua cabeça começa a suar e a merda a escorrer...

[CONTINUA]

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

#GordinhoQueNãoCorre


Há pouco mais de quatro meses eu postei que mudaria minha preguiçosa vida...
Em 2 de julho de 2014: #GordinhoQueCorre

"Eis que a minha jornada definitiva em busca de uns 10 kg a menos começou pra valer. Eu sei que já iniciei, por diversas vezes, outras jornadas que não deram resultado. Sempre fiquei pelo caminho. Mas prometi para meu gordinho interior que desta vez seria diferente. E espero, de verdade, que seja.

Beirando os 100 kg, já era hora de me preocupar, né? Ainda mais quando o cálculo de Índice de Massa Corporal (IMC) dá 31,3 (obesidade grau I) e aparece a seguinte mensagem: "você está muito acima de seu peso normal. É recomendável que você procure auxílio para evitar complicações relacionadas à obesidade. Consulte um médico ou nutricionista."

Na segunda-feira (30 de junho) eu consegui vencer minha preguiça e caminhei no Parque da Cidade. Não foi fácil, mas dei os primeiros passos em busca da desgordurização do meu ser. E, levando em consideração a linda paisagem que eu vi por lá, não vou desanimar tão cedo. Cada docinho... :)

É isso. Em breve serei um ex-gordo. Que Deus me ajude."

No entanto, igual político depois que vence eleição, ignorei minha promessa. Depois dessa primeira caminhada, o Parque nunca mais me viu. E, para mim, poderia continuar assim que não faria diferença...

Até que, há alguns dias, eu fui a uma farmácia e resolvi me pesar.
O resultado foi assustador. Falta muito pouco para chegar aos 100kg!

Mas, até aí, ainda estava tudo bem. Nunca me importei em ser gordinho. Acho que, sei lá, desde os 20 anos eu sou assim, beem acima do peso. E isso nunca me impediu de ser feliz. Nem mesmo a eterna sofrência diária de bullying.

O que me preocupou foi o fato de eu não conseguir mais fazer coisas que antes eu não abria mão, como, por exemplo, jogar bola. Até diminuí minha frequência de idas ao cinema porque já não aguentava subir as escadas.

Há três semanas, um amigo me chamou para jogar futsal. Topei na maior animação. No entanto, após a alegria inicial de pisar na quadra, veio a realidade cruel e devastadora. Não aguentei jogar nem CINCO MINUTOS. Minhas pernas travaram. Por várias vezes quase fui parar no chão. O ar chegava com muito sacrifício aos meus pulmões. Torci para que tomássemos logo os gols para a partida terminar. Na verdade até dei uma contribuída para isso... Depois ainda tentei jogar mais uma, mas não deu. Meu corpo já não aguentava mais. Para piorar, passei a semana sem conseguir andar direito...

Agora acho que não sobraram muitas alternativas, né? O jeito é reativar o projeto #GordinhoQueCorre e tentar alcançar pelo menos um dos objetivos que tracei para 2014, já que os outros...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Viva enquanto é tempo


Qual o seu preço?
Quanto custa a sua felicidade?
Não espere a vida acontecer para você.
Encontre algo que o faça feliz e, simplesmente, faça.
Porque o resto não passa de ruído de defunto.
[Lembro que ouvi isso em alguma série que eu assisti. Só não lembro qual]
A vida não espera para passar. As pessoas não esperam para ir embora. E a morte não espera para chegar.

O mais importante na vida é, simples e justamente, viver. Não há nada melhor, mais digno e proveitoso do que viver. Viver da maneira que você deseja. Seja todo certinho, ou bagunçado, você não precisa dar satisfação para ninguém, a não ser para você mesmo.

Melhor que fazer um milhão de planos é realizar um milhão de coisas. Mesmo que essas coisas, para os outros, não tenham significado algum.

Melhor que planejar por anos a viagem perfeita é juntar um bando de amigos e sair pelo mundo afora, sem dinheiro, sem planos, sem preocupações. Simplesmente ir, sem pressa de chegar.

Melhor que viver estressado arrumando mil maneiras de se dar bem na vida, é arrumar mil maneiras de se sentir bem com a vida. O dinheiro pode te ajudar a ser feliz, mas ele não é tudo. De nada adianta achar que a grama do vizinho é sempre mais verde, que a casa é melhor, ou que a namorada  é mais gostosa. Com certeza você é esse vizinho para alguém.

Não deixe nada para amanhã. A não ser as preocupações. Se acha que algo deva ser dito, que o diga logo. Não espere pelo momento certo para fazer as coisas, porque, talvez, ele nunca apareça. Ou quem sabe não é você que tenha que criá-lo? 

Uma das piores coisas que podemos fazer é nos iludir. Porque papos como "se eu tivesse mais tempo ou dinheiro, blá, blá, blá" não servem para nada. Pensando assim, você nunca vai conseguir aproveitar o hoje. Se o rio te acalma, não espere ter uma casa na beira dele para poder contempla-lo.


Se quer mudar de vida, não espere o Ano Novo para fazer sua lista de promessas. Quem quer, consegue. Se não conseguiu é porque não se esforçou o bastante.

Não generalize o mundo, as coisas, as pessoas... nem todos os homens são safados. Nem todas as mulheres são interesseiras. Nem todo político é corrupto.

Não se prenda a uma coisa, ou a uma pessoa, por medo da liberdade. Ser livre, às vezes, faz bem. Não limite seus sonhos. Não diminua sua capacidade. Não despreze suas qualidades.

Viva. Mas viva de verdade. Não apenas passe os dias, mas aproveite-os. Curta cada momento. Se tem que estudar, estude. Se tem que trabalhar, trabalhe. Se tem que amar, ame. Mas faça tudo sempre da melhor maneira. Não faça nada pela metade. Nada que você sabe que poderia ter feito melhor. Se for errar, erre pra mais. Se der errado, ao menos, você terá a paz de que fez o melhor. E se o seu melhor não foi o bastante, paciência.

"Você é seu pior inimigo. Você perde um tempo precioso sonhando com o futuro em vez de se envolver com o presente. Visto que nada lhe parece urgente, você está apenas parcialmente envolvido no que faz".
[Robert Greene]

PS.: este texto é aquele típico "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

#LQL - Cultura da Convergência

Henry Jenkis, no livro Cultura da Convergência, traz importantes discussões sobre a mídia no século 21. Na obra, ele contextualiza a convergência midiática como processo cultural, as narrativas transmidiáticas e as novas necessidades dos consumidores por meio de exemplos de produtos de absoluto sucesso comercial na TV, no cinema, nos games, na publicidade e na política.
Na obra, ele cita Matriz, por exemplo, para explicar como se deu essa virada nas narrativas trasmidiáticas e como a crítica reagiu a isso. As pessoas puderam consumir e viver os diversos personagens de forma intensa. Quem só assistiu aos filmes, teve uma experiência mais superficial. Quem, além dos filmes, leu as histórias em quadrinhos, teve uma experiência mais profunda. E quem ainda jogou o game, pôde conhecer o mundo Matriz bem mais a fundo. De certa forma, as múltiplas plataformas são autônomas. Quem consumiu apenas um produto, não ficou perdido na história. Da mesma forma que também são dependentes. Para alcançar a plenitude da narrativa, seria necessário ter acesso às múltiplas ferramentas. Alguns personagens, por exemplo, tiveram a história mais desenrolada no game do que nos filmes. Parte da crítica, acostumada com o cinema tradicional, não reagiu bem ao novo modelo convergente.
É importante definir que o autor diz que a convergência não se reduz apenas a desenvolver várias plataformas que possibilitam múltiplas experiências ao consumidor, ou reunir em um só local várias ferramentas. A convergência faz parte de uma transformação cultural, em que os consumidores são incentivados a sempre estar em busca de novas informações. Assim, a convergência acontece dentro dos consumidores e reflete em suas interações sociais. O perfil do mercado consumidor se modificou bastante nas últimas décadas.
As pessoas não são mais meras expectadoras. Agora elas são participantes. Não se contentam apenas em assistir ou ouvir. Querem, também, produzir. Votam em quem desejam que seja eliminado de um reality show, criam comunidades online para debater os próximos capítulos de sua série favorita, fazem produções independentes ou escrevem histórias de finais alternativos.
CULTURA DA CONVERGÊNCIA
Autor: Henry Jenkins
Tradução: Plínio Augusto de Souza
Editora: Aleph
Páginas: 428 
Ano: 2009

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Quase amores



Tem gente que passa pela nossa vida e, apesar de se tornar especial, pelo capricho de um quase, não se torna um amor completo.

Todo mundo já teve um quase amor. Uma pessoa que conhece na faculdade, no trabalho, na academia ou, sei lá, em qualquer outra ocasião. Geralmente alguém com quem convive diariamente. E, ao se aproximar devagar, vai conquistando a confiança.

Na maioria das vezes um quase amor é comprometido. A pessoa é casada ou namora há bastante tempo. Talvez isso é o que faça com que o amor fique só no quase.

As coisas acontecem aos poucos. Os sorrisos bobos começam a surgir. Mensagens são enviadas e recebidas aos montes. Os bilhetinhos carinhosos aparecem nos lugares mais inusitados.

A caixa de entrada do email enche. São links de filmes ou clipes de músicas. As ligações se tornam diárias. Controlar-se fica difícil. Tudo vira motivo para falar com a outra pessoa. Todo filme, toda música, enfim, tudo lembra ela.

Com os quase amores são planejados os sonhos mais loucos. E as fantasias mais românticas tomam conta da imaginação.

Muitas vezes a atração sexual é o de menos. Apesar de passar as madrugadas conversando sobre tudo, de forma muito inspiradora e intensa, o sentimento se transforma em algo tão romântico que o sexo é (quase) colocado em segundo plano.

Infelizmente (ou felizmente) os quase amores não dão certo. Uma hora ou outra a pessoa vai se distanciar de você. Apesar da vontade de ficarem juntos, os padrões não permitem que isso aconteça. Afinal, quem abandonaria o marido, ou a esposa, ou abriria mão da calmaria de um longo namoro para viver a paixão com seu quase amor, num barco furado? Ninguém troca o certo pelo duvidoso. E talvez seja melhor assim.

Depois de toda a história vivida e sonhada, no final, você será tratado como um estranho. Amizade, nem no Facebook mais. E, quando o dia amanhecer meio nublado, com clima de solidão, você vai se lembrar do seu quase amor e revirar as mensagens antigas para amenizar um pouco a saudade. Ou não.
“Eu tenho um quase amor, que não pode tornar-se amor verdadeiro, pois nossas vidas correm em tempos diferentes. Mas posso contar com esta pessoa, como se estivesse ao meu lado em todas as horas. Sua ausência chega a se tornar presença nas horas mais impróprias, mas não pode ser meu amor. Enquanto isso vamos vivendo, aproveitando os momentos de amizade, de profissionalismo, escondendo (de nós mesmos) toda esta paixão e tesão que teimam em nos rodear.”

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

#LQL - Modernidade Líquida


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Modernidade Líquida, questiona e contextualiza os parâmetros da sociedade contemporânea. O autor revela as fragilidades, incertezas e inseguranças proporcionadas pela liquidez em cinco conceitos básicos da condição humana (emancipação; individualidade; tempo e espaço; trabalho; comunidade), em contraponto às certezas, segurança e tradição da ‘Modernidade Sólida’. Aquela em que as relações humanas estavam consolidadas por um modelo antigo pré-existente.
A Modernidade Líquida, trazida por Bauman, é associada à sociedade atual por conta da fluidez. O líquido não tem forma, por isso se molda a qualquer recipiente em que estiver inserido. Os fluidos se adaptam a qualquer realidade sem que haja esforço. Penetram nos lugares facilmente e, muitas vezes, são difíceis de serem contidos. Essa é a dinâmica da sociedade atual. Ela se transforma de maneira acelerada. O sólido, para se modificar, é preciso que haja muito esforço.
Um dos conceitos abordados por Bauman é a emancipação. O autor questiona se a liberdade seria uma benção ou maldição, já que o indivíduo é livre para agir de acordo com suas necessidades e desejos, mas também a ele recai a responsabilidade por seus atos. Na Modernidade Sólida, a emancipação se apresentou como problema, porque as pessoas não apresentavam mais o desejo de serem libertadas, de serem livres de suas limitações, de agir conforme bem entendessem, de criar o seu próprio caminho.
Na modernidade líquida, isso muda. As pessoas começam a se lançar em seus impulsos, sem ter amarras para segurá-las. O indivíduo passa de agente passivo para agente ativo, de expectador para ator. 
No tocante à individualidade, o autor fala do agente consumidor, que agora sua frustração maior não é não ter o produto, mas se decidir a escolher apenas uma entre as muitas opções. A fluidez do capitalismo abre essa possibilidade. Cada indivíduo tem a chance de escolher aquilo que mais lhe agrada. Nada é imposto, ao consumidor. De diferentes formas, ele deve ser conquistado, seduzido.
Um dos efeitos mais significativos da Modernidade Líquida é a relação tempo/espaço. Com a dinâmica das relações sociais, a vida se transformou em diversas escolhas com infinitas possibilidades. As coisas se desenrolam com grande rapidez. As escolhas devem ser feitas sem perda de tempo. Os momentos devem ser vividos de forma imediata e intensa. O depois não mais existe. Só o agora é que vale. Por isso as pessoas falam com grande frequência que o ‘tempo passa cada vez mais rápido’.
Na questão relativa ao trabalho, uma mudança clara é percebida na sociedade inserida na Modernidade Líquida. A atual geração não tem mais como ideal de carreira entrar em uma empresa ainda bastante novo e lá ir subindo os degraus rumo às hierarquias superiores, até chegar ao topo e, posteriormente, gozar de sua aposentadoria. Na dinâmica líquida, o indivíduo não tem esse pensamento a longo prazo. Ele aproveita as oportunidades que têm, não fazendo uso da estabilidade que conseguiria se continuasse no mesmo emprego. Como o autor diz, o longo prazo é substituído pelo curto prazo, sendo necessários ajustes ao longo do percurso.
Por fim, Bauman entra no tema da comunidade. E ele diz que é importante que o indivíduo participe e interaja com o meio, mesmo que as regras estabelecidas colidam com a liberdade individual. O autor menciona que a figura do ‘clokroom’ é fundamental. Esse termo, ou comunidade de carnaval, refere-se ao fato de o indivíduo se vestir de acordo com a ocasião, se moldar conforme o espetáculo. Ele também fala sobre a nova relação com o capital, em que se tornou menos dependente, após as pessoas adquirirem certa liberdade de ação. No capital pesado, havia mais dependência. No entanto, em uma comunidade de capital leve o indivíduo viverá em constante conflito entre a liberdade individual e a responsabilidade coletiva.
MODERNIDADE LÍQUIDA
Autor:
Zygmunt Bauman
Tradução:
Plínio Augusto de Souza
Editora: Zahar
Páginas: 280

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

#LQL - Como parar de planejar e começar a fazer

Este ebook é interessante porque trata de um problema muito comum na vida profissional das pessoas, principalmente dos jovens: planejamento sem ação. De nada adiantar planejar, planejar, planejar e nunca conseguir construir algo, nunca fazer algo concreto. Isso acontece por vários motivos. Às vezes não sabemos direito o que queremos, por isso pensamos em uma série de coisas ao mesmo tempo, sem que façamos qualquer uma delas.

O autor lista sete itens que podem ajudar a passar de agente passivo para agente ativo. São elas:


#1 – Leia, mas leia muito

#2 – Esteja cercado de gente nível A
#3 – Produza, entregue, avance
#4 – Envolva-se com projetos interessantes
#5 – Não gaste dinheiro
#6 – Não fique obcecado com a “felicidade”
#7 – Seja uma pessoa sólida

Para conferir mais dicas sobre produtividade, tentar entender um pouco melhor a mente humana ou a busca pela felicidade, visite o site Estrategistas. Se quiser ótimas recomendações de leituras, inscreva-se aqui.


Está cansado de planejar e quer começar a fazer? Eu também já estive assim. Tinha tanta coisa legal que eu queria fazer, mas nunca conseguia tirar as ideias do papel. Para começar, eu não sabia o que fazer com minha vida. Estava perdido entre as várias opções possíveis. Depois, tinha muita dificuldade em parar de planejar e começar a ação.
Aos poucos, comecei a agir (os princípios que descrevo abaixo) meio que sem perceber, absorvendo conhecimento de mentores e bons livros. Quando eu acordei certo dia, notei que tinha colocado muita coisa legal no mundo e estava no caminho para criar mais.


COMO PARAR DE PLANEJAR E COMEÇAR A FAZER
Autor: Paulo Roberto
Download do livro

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

#LQL - O Rei de Havana


Este, talvez, tenha sido o livro mais diferente que li. Ele conta a curta história de um adolescente que mora na deplorável Havana (Cuba), o Reynaldo. Por lá ele vive intensas histórias regadas a rum, maconha e sexo.

Após perder, na mesma hora, a mãe, o irmão e a avó, a vida do adolescente muda drasticamente. Ele é levado para uma instituição de menores, onde enfrenta algumas situações que não consegue suportar, e foge.

Depois disso, tenta ser dono de si, mas vive constantemente fugindo da polícia. Sua companheira inseparável é a fome. É ela quem o guia diariamente. Para suprir esta necessidade, faz de tudo. Rouba pães, vasculha restos nos lixos, furta turistas, pede esmolas e, também, arruma uns bicos. Mas nada que dure muito. Com temperamento difícil, orgulhoso e ciumento, arruma problemas por onde passa.

A narrativa é envolvente. Tão envolvente quanto os casos amorosos do Rey. A linguagem, pesada e direta. As descrições, realísticas.

Se você for cheio(a) de mimimi, nem perca seu tempo. O livro é para maiores de 18 anos.

Só lendo para descobrir o porquê de o Reynaldo ser o Rei de Havana.
“No meio da briga, a gozação da putinha o machuca ainda mais. Dá um forte empurrão na mãe e a joga de costas contra o galinheiro. De um canto da gaiola, projeta-se uma ponta de cabo de aço que se crava em sua nuca até o cérebro. A mulher nem grita. Abre os olhos com horror, leva as mãos ao ponto onde entrou o aço. E morre apavorada. Em segundos, forma-se uma poça de sangue grosso e de líquidos viscosos. Ela morre com os olhos abertos, horrorizada. Nelson vê aquilo e de repente desaparece o ódio que sente pela mãe. É inundado de dor e de pânico.
- Ai, minha mãe! O que foi que eu fiz, o que foi isso? 
Agarra a mãe, tentando levantá-la, mas não consegue. Está espetada pela nuca na ponta do cabo de aço. 
- Eu matei ela, matei ela! 
Gritando como um louco, sai correndo pelo beiral da cobertura e se atira na rua. Não sente o estrépito do seu crânio ao se arrebentar no asfalto quatro andares abaixo. Morreu igual à mãe, com uma expressão veemente de crispação e de terror. 
A avozinha viu aquilo tudo sem se mexer de seu lugar, sentada num caixote de madeira podre. Sem fazer nem um gesto, fechou os olhos. Não podia viver mais. Já era demais. O coração dela parou. Caiu para trás e ficou recostada na parede, impávida como uma múmia.”

O REI DE HAVANA
Autor:
Pedro Juan GutiérrezTradução: José Rubens Siqueira

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 226

Download do livro

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Revoltada com aumento de energia, moradora cria próprio ar condicionado



A população santarena já não aguenta mais essa situação: noite às escuras e cobrança abusiva no final do mês. Não se passa uma semana sem que o fornecimento de energia elétrica não tenha falhas. Dia após dia a Celpa mostra porque sempre lidera o ranking de reclamações no Procon - apesar de que, ultimamente, os consumidores já estão de saco tão cheio que até pararam de reclamar, fato bastante comemorado pela gerência da empresa, que tenta passar uma falsa de imagem de que as coisas vão bem.

Ainda se recuperando da pancada recebida este mês, quando foi anunciado o aumento de 35% na conta de energia, vários consumidores correm em busca de alternativas para sair do laço criado por governo e concessionária.

Tem gente que já se cansou de dar o suado dinheiro para o governo, que mete a mão nos brasileiros, por meio de tantos impostos, e para uma empresa que consegue ser pior a cada dia.

Uns resolveram voltar a uma realidade na qual pensaram ter deixado para trás. Para estes, substituir a energia fornecida pela Celpa por geradores foi a opção encontrada.

A dona de casa Márcia Ferreira, criativa do jeito que é, encontrou outro jeito de economizar na conta de energia e não passar calor. Ela criou seu próprio ar condicionado, com um consumo muito menor do que os tradicionais. "Meu quarto é muito quente e meu ventilador é fraco. Achei que seria uma solução prática, econômica e satisfatória para meu problema", diz.

Para construir o aparelho, ela assistiu vídeos na internet. Poucas horas depois, já estava desfrutando de sua criação, que precisou de um ventilador, isopor e gelo para ficar pronta.

"É um absurdo um lugar quente desse jeito e a gente não poder nem se refrescar porque a conta de energia é um roubo!”, reclama, indignada.

sábado, 23 de agosto de 2014

Um ser daltônico

Antes de ler este texto, quero que você me faça uma promessa. Preste atenção, porque para mim é algo bem simples, mas, para você, talvez não seja. Toda vez que alguém fica sabendo que eu sou daltônico, sempre repete os questionamentos feitos por trilhões de pessoas. Então, encarecidamente, eu peço para que não me pergunte coisas do tipo: “que cor é essa? E aquela?” (apontando para diversos objetos) ou “como você consegue dirigir?”... vou explicar tudo aqui, belê?

Ser daltônico já é algo normal, para mim. Não é nada que tire meu encanto pela vida ou me faça entrar em depressão. Não ver algumas cores ou confundir tantas outras, de uns anos para cá, tem até sido motivo de muitas gargalhadas. Mas nem sempre foi assim...

Quando eu era um menino, e nada mais que um menino, eu sofria bastante por não saber diferenciar as cores. Acho que a primeira a perceber que eu era daltônico foi minha mãe. No começo, quando meus pais viam meus desenhos, eles achavam que eu gostava muito de vermelho e marrom, porque tudo era nessas cores: casas, pessoas e bichos. De vez em quando apareciam umas nuvens roxas, também. Mesmo assim, tenho certeza que eles sempre ficaram felizes em receber as minhas obras de arte.

As lembranças mais ingratas que eu tenho são das aulas de geografia. Não sei o porquê de a gente ter que colorir tantos mapas. Quando chegava essa hora, sempre me dava uma dor de barriga.
- Pintem a Europa de vermelho – dizia a professora.
- Hei, depois que você usar, empresta o vermelho? – eu pedia para meu colega de turma.
- Eu tenho dois, pode pegar aqui – respondia, me indicando seu estojo repleto de lápis de cor.
- Humm... tá bem – falava sem saber o que fazer. Não custava nada ele pegava o vermelho e me dar, né? Mas não, eu era obrigado a localizar o bendito lápis entre tantos.
- Haha. Você é doido, por que não pegou o vermelho? A professora vai brigar com você se ver que pintou de marrom.
- Sabe como é, não gosto de seguir as regras... – respondia me cagando de medo.
Depois de seguidos episódios como esse, meus lápis começaram a receber as iniciais das cores, para ver se eu conseguia ‘seguir as regras’.

O engraçado é que lido diariamente com as cores. Seja no meu emprego, ou em bicos por aí, criando artes ou diagramando jornais e livros. Em vez de correr do problema, justamente vou ao centro dele. :/

O maior questionamento de todo mundo é: como você consegue dirigir?

Bom, passei anos desenvolvendo uma técnica para que eu pudesse dirigir sem que matasse ou morresse no trânsito. O primeiro passo é óbvio: decorar a posição das cores. Isso é muito prático, no entanto se limita apenas durante o dia. Se for horizontal, às vezes os semaforístas (não sei se essa palavra existe, mas a usei no sentido de 'os caras que instalam os semáforos') não seguem o mesmo padrão e bagunçam a minha vida. À noite, em certos pontos onde a iluminação pública não é tão boa, você vê apenas a luz acesa, mas não consegue saber em que posição ela está. Às vezes consigo identificar a cor, mas quando isso não acontece, faço uma rápida análise do cenário e observo a movimentação dos outros veículos. Se tem carro à minha frente, faço o que ele faz. Se tem carro atrás, dou uma segurada até ver a reação dele. Se na minha mão não tem carro nem à frente, nem atrás, olho para as outras.

Para jogar videogame, preciso de algumas artimanhas. Quando é possível selecionar a cor de mira em jogos de ação, os daltônicos agradecem. Quando não, é preciso dar um jeito. A melhor solução encontrada (até agora) foi por um pingo de pasta de dente no centro da tela. Assim não tem como errar!

Jogar bola também pode ter suas complicações. Eu e meu irmão – que também é daltônico – já deixamos de jogar por causa das confusões nos coletes. Quando é amarelo, azul ou preto, fica fácil diferenciar. O problema é quando colocam verde e vermelho frente a frente. Aí não tem daltônico que resista. Para não pegarmos fama de maus jogadores, preferimos abrir mão de jogar. O pior é que ninguém acredita, mas fazer o que?

Mais recentemente meu irmão descobriu porque não achávamos tanta graça nos arcos-íris, enquanto todo mundo fazia o maior auê quando algum surgia. Para nós, as sete cores eram que nem o pote de ouro: só ilusão. Nós não as víamos. Quer dizer, nós não as vemos. No máximo, e, olha lá, com muita sorte, enxergamos umas três... mas, tá tudo bem.

Já escrevi, outras vezes, sobre daltonismo. Se quiser, pode conferir.

Histórias de um daltônico