O Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) é o retrato
da educação brasileira. Não é à toa que as “pérolas do Enem” sempre fazem o
maior sucesso nas redes sociais e, até, nos programas de TV. Infelizmente, por
mais engraçado que as coisas pareçam ser, no fundo, a realidade é
desesperadora.
As redações sempre servem para que possamos
analisar como anda o nível de compreensão de mundo dos alunos, assim como a
forma do raciocínio e o domínio da língua portuguesa. É através de um texto que
você conhece o nível de aprendizado de uma pessoa. Mais que isso. O texto é o
retrato do perfil daquele ser. É como se fosse uma digital interior. Por isso
as redações sempre são exigidas em vestibulares e entrevistas de emprego. É uma
forma de externar o seu ‘eu’ interior.
Pelas correções das provas do último Enem, podemos
traçar como anda o nível educacional do brasileiro. É claro que as ‘pérolas’
sempre vão existir. Ninguém pode controlar o que uma pessoa vai escrever em uma
folha de papel. Agora, aceitar tudo como se fosse correto, já é demais. Nos
últimos dias repercutiu bastante na mídia as gafes cometidas pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), realizador da prova.
Os casos são os mais absurdos. Se não fosse
verdade, e não tivesse prova de que aconteceu, ninguém acreditaria. O tema da
redação do exame foi “Movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI”.
Teve um aluno que, no meio do texto, escreveu o hino do Palmeiras, e, ainda,
tirou 500 pontos. A nota máxima era mil pontos. Em um trecho ele desenvolve o
seguinte pensamento. "As capitais, praias e as maiores cidades são os
alvos mais frequentes dos imigrantes, porque quando surge o alviverde imponente
no gramado onde a luta o aguarda, sabe bem o que vem pela frente e que a dureza
do prélio não tarda. E o Palmeiras no ardor da partida, transformando lealdade
em padrão. Sabe sempre levar de vencida e mostrar que de fato é campeão. Por
este o principal motivo de imigrantes". O impressionante é que das 24
linhas escritas pelo estudante, 10 foram tomadas pelo hino do time do coração.
Depois de receber a correção, ele postou a imagem da prova no Facebook e ainda
comentou: "o Enem só me faz rir".
E não é que ele tem razão? Como levar a sério um
país deste? Outros casos também surgiram, como o da redação de um candidato que
descreveu a receita de um miojo. Espera aí, onde vamos parar? O que tem a ver
com tema proposto? Se fosse uma comida italiana ou japonesa, ainda teria como
aproveitar para fazer em casa. Mas de miojo? “Para não ficar muito cansativo,
vou agora ensinar a fazer um belo miojo, ferva trezentos ml’s de água em uma
panela, quando estiver fervendo, coloque o miojo, espere cozinhar por três
minutos, retire o miojo do fogão, misture bem e sirva”. Simples assim. Isso foi
inserido no texto, sem nexo e contexto, e ainda recebeu 560 de nota. Isso sem
falar das redações que obtiveram a nota máxima e continham erros grotescos como
as grafias ’rasoavel’,
‘enchergar’ e ‘trousse’.
De um povo que desconhece a própria língua não se
pode esperar muita coisa, principalmente quando quem deveria educar e dar o
rumo certo às coisas não cumpre com a sua obrigação. O Enem vem provando a
precariedade da educação brasileira. Não bastassem os escândalos quanto à
confiabilidade do exame, agora está em cheque, também, a validade da prova para
medir o nível na educação no país. O que gera revolta em quem, de fato, leva a
sério os estudos. É mais que um tapa na cara da sociedade, é um suicídio moral.
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