quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um dia normal



Você rola de um lado para o outro e não consegue dormir. Depois de muito tempo, o sono chega. Mas vai embora assim que a energia acaba durante a madrugada. O calor fica insuportável. Para aliviar um pouco, abre as janelas do quarto. E por elas entram várias caravanas de carapanãs. Mas o cansaço é tanto que, mesmo ensopado de suor e devorado pelos pernilongos, você dorme. E sonha. Ou pior, tem pesadelos. Você acorda. Várias vezes. E fica com raiva. Mas dorme, porque está cansado. E acorda. E dorme de novo. Dorme até o despertador começar a tocar. Você nem ouve. Ele toca de novo e de novo até você finalmente acordar. Assustado, olha a hora. E vê que já está atrasado para o trabalho. Levanta da cama com uma dor de barriga que o obriga a ir esvaziar o reservatório. Dá uma cagada rápida, mas esquece que o papel higiênico acabou. Vai tomar banho. Mas, como sempre, está sem água. Você encontra uma cueca rasgada no cesto de roupa suja. Sem outra opção, você limpa o traseiro como pode, tentando não melar a mão. Veste a roupa, passa uma dose extra de perfume para aliviar o cheiro de suor com merda, e vai abrir a garagem para sair com o carro. Sai, fecha o portão, e se dirige ao trabalho. No meio do caminho você começa a sentir cheiro de merda. O fedor só faz aumentar. “Mas eu limpei direitinho, como está fedendo tanto assim?”, pensa. Decide parar o carro. Não tem como ir trabalhar assim. Ao olhar para baixo percebe que o cheiro não vem de você, mas do seu sapato. Ao andar pelo quintal, pisou na merda do cachorro. Você desce do carro. Na ânsia de tirar a merda do sapato, dá um chute frontal no ar. A merda sai do sapato, mas faz pirueta e espirra na sua testa. Mas foi só uma parte dela. Tanto que você nem notou. Satisfeito, achando que havia se livrado do problema, volta para o carro e segue para o trabalho. “O cheiro tava tão forte que impregnou no meu nariz e não sai”, murmura. Dirige por mais uns cinco minutos até o carro estancar. Por sorte está em uma descida. Tenta dar um tranco. Nada. Na banguela, encosta o carro. Quando para é que vê que o marcador já está na reserva. “Maldição, acabou a gasolina”, esbraveja. Pensa em continuar o percurso a pé, mas como já está atrasado, decide pegar um mototáxi. Chama o primeiro que aparece. Diz para onde quer ir e põe o capacete. O calor está escaldante. Sua cabeça começa a suar e a merda a escorrer...

[CONTINUA]

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