A lenda que não é lenda. A
Amazônia está cheia de filhos de boto.
Já estamos cansados de tanto
ouvir sobre as riquezas da Amazônia. Um lugar que chama a atenção do mundo,
seja para a exploração, seja para a preservação. Uma terra cheia de maravilhas
e encantos, com infinitas potencialidades. Que possui recursos naturais que se
transformam em quantias exorbitantes de dinheiro. Madeiras que valem ouro. Ouro
que compram mansões. Mansões que abrigam poucas pessoas, muitas que nem daqui
são. Uma realidade que em muito se contrasta com a absoluta maioria dos
moradores da região.
Enquanto a riqueza é
compartilhada por poucos, a população da Amazônia, em geral, perece. Muita
gente vive como se vivia há 100 anos. Tecnologia? Desenvolvimento? São palavras
que não se aplicam à realidade deles. Em algumas comunidades ribeirinhas, a
neta se vê obrigada a seguir os mesmos passos da mãe, que por sua vez, seguiu
os da avó. Um ciclo natural, que parece estar longe de ter um fim. Culpa de
quem?
Se você, leitor, já viajou de barco
para Belém, com certeza notou, ao longo do trajeto, a grande quantidade de
balseiras que ficam espalhadas pelo rio. Pessoas que não têm outra opção na
vida a não ser vender os poucos produtos que conseguem extrair da natureza,
pedir migalhas dos viajantes, ou então se prostituir. Aí que surgem os filhos
dos botos. Crianças que crescem sem saber quem é o pai. E, muitas vezes, nem a
própria mãe sabe de quem é o filho, já que não possui parceiro fixo. Como não
tem nenhum ganha-pão, a alternativa que as mulheres encontram é trocar sexo por
presentes. A cada novo navio, uma nova oportunidade.
Em certas localidades onde a
energia elétrica não chegou, a vida é movida pelos geradores à óleo diesel, e
este produto torna-se indispensável. Sem dinheiro, sem trabalho e sem
oportunidades, o meio encontrado para tê-lo não é o mais fácil, a prostituição.
Aliás, esta realidade foi tema de reportagem da edição deste mês da revista
National Geographic Brasil. Aproveitando o gancho, resolvemos trazer a
discussão para o “Argumento da Redação” e debatê-lo mais intensamente.
Como já disse, é um problema de
longa duração, em que os envolvidos já estão tão acostumados que não causa
nenhum tipo de constrangimento viver assim. Foi a solução encontrada. Na
verdade eles nem consideram prostituição. Mas, apesar de ser uma realidade
comum para eles, ao sabermos que pessoas tão próximas de nós passam por isso, é
revoltante. Como pode haver uma região tão rica em que seus moradores vivam
dessa maneira? Mas, será que, realmente, eles não têm outra solução? São
condenados a repetir esse ciclo sem que tenham alguma esperança de mudança?
Diversos fatores poderiam ser analisados. Muita coisa apontada.
De vez em quando até que surge
alguma menina que tenta quebrar a corrente do destino e traçar um novo rumo
para sua vida. Porém o caminho é árduo. Com a família passando necessidade, e o
abismo que se forma a sua volta, parecendo tudo tão distante de suas mãos, a
única solução visível é repetir o mesmo cenário que persiste há décadas. Quem
resolve estudar e sonha com uma vida melhor, muitas vezes recebe a desaprovação
dos pais. Como pode perder tempo estudando se a barriga está vazia?
O Governo Federal, apesar de toda
a propaganda, continua longe dessas pessoas, assistindo com normalidade a tudo
isso. Os postos de trabalho característicos desses lugares, como a exploração
de madeira, são fechados. Sem trabalho e sem medidas que mudem, de fato, a
realidade dessa população, as meninas, mulheres e anciãs continuam esperando na
imensidão do rio pelo navio que vai garantir o sustento da vida. E esperando em
cada capitão um boto.
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