segunda-feira, 16 de abril de 2012

O poder da música

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Quais os benefícios que a música pode trazer ao ser humano? Por que ela exerce tanta influência sobre as pessoas? Ela nos torna mais inteligentes?
Joab Ferreira

A música faz parte do ser humano, inegavelmente. E isso não vem de agora. Estudos indicam que desde que o homem começou a se organizar em tribos primitivas a música tem espaço garantido. Na verdade, na pré-história ela já era produzida, por meio dos utensílios do dia-a-dia. Com o passar do tempo, e das épocas, essa produção cultural ganhou mercado e novos estilos.
A música é entendida como a arte de combinar os sons e o silêncio. Arte capaz de fazer sorrir, chorar e estimular. Usada amplamente pela mídia, em filmes, novelas e campanhas publicitárias. E estudada profundamente pela ciência, trazendo a cada pesquisa, mais perguntas do que respostas. E é nesse meio que permeiam as dúvidas e mitos¹.
“Nessa área há muito interesse, especialmente da mídia, mas existem muitos mitos também. E existem muitas coisas que não estão completamente comprovadas”, explica a doutora em psicologia Iani Lauer, professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Música é emoção
Iani Lauer explica por que o conjunto harmonioso de sons tem uma receptividade e uma influência tão forte nas pessoas. “A música está muito próxima da emoção. É um ponto muito forte de relação que existe. Ela ativa em nosso cérebro os locais que trabalham com a questão da emoção, e fortemente. Isso interfere na questão dos batimentos cardíacos, pressão arterial... Vai diretamente na emoção e não na razão”.

A música é um agente de transformação social, e nela estão incluídos diversos fatores que a transformam em algo de surpreendente valor e complexidade. Ela pode aumentar, ou diminuir, o estado de excitação dos ouvintes, dependendo do tipo de ritmo e do contexto em que está inserida. Em um filme, por exemplo, grande parte da mensagem e, consequentemente emoção, transmitida é repassada pela trilha sonora.

Ao ouvir uma música mais ‘rápida’ a pessoa fica agitada, com um nível de excitação maior. Ao escutar uma música ‘lenta’, a pessoa passa a ter uma calma maior, tendo mais espaços a reflexões. Ela cria novos ambientes e também ajuda a preencher um vazio causado pela falta de interação com outras pessoas. Ou pode justamente auxiliar nessas relações interpessoais, aproximando indivíduos por meio da dança, por exemplo.

Outro ponto importante causado pela música é a facilitação de armazenar lembranças. Ao ouvir uma música a pessoa pode se lembrar de algum fato na infância que a marcou, ou de um relacionamento que não deu certo, ou ainda de uma cidade em que morou. A música tem o poder de ativar no cérebro essas lembranças. “A música parece constituir um artefato mnemônico que estabelece ligações entre as pessoas e os eventos, ajudando a armazená-los na memória”, relata a doutora em PhD em educação musical, Beatriz Ilari, em um dos seus trabalhos.


Música e seus benefícios
A música tem grande destaque nas áreas de educação e saúde. Os pais são aconselhados a incentivarem seus filhos à prática musical. Nas salas de aulas os professores fazem coro para defenderem as vantagens ao desenvolvimento humano que a música proporciona. Dizem que estimula a mente da criança, ajuda na memória e concentração. “Para a criança tudo é mais fácil. A fase de maior aprendizado humano é a primeira infância. Então daí a preocupação de expor a criança, não apenas à música, que é um estímulo muito rico, mas a outros estímulos também”, diz a professora da Ufopa, Iani Lauer.

Na Saúde a relação entre música e paciente é muito próxima, por conta do poder que ela tem em mexer com a emoção das pessoas. “Conhecemos bem o efeito que música tem principalmente sobre nossas emoções e o poder que ela tem de induzir estados emocionais. Por isso, cada vez mais ela vem sendo usada em terapia de doenças psíquicas, associada ou não a técnicas corporais. Também pode ser aplicada para melhorar a concentração e conduzir a estados meditativos. Não há dúvida que a música gera bem estar, mas o contrário também pode ocorrer, alguns tipos de ritmos musicais podem gerar desconforto emocional e físico”, relata a médica Bernadette Serra.


Relação mãe e filho

Entre os 5 e 6 meses após a concepção, o feto já é capaz de reagir ao som. Apesar de estes soarem diferentes do que foram emitidos, por terem de passar através do abdômen da mãe e do líquido amniótico. A voz materna é a melhor para ser ouvida, pois pode ser percebida por meio das vibrações do seu próprio corpo.
“O bebê escuta, ainda na barriga da mãe, e grava esses sons. Ele tem memória. Existem vários relatos de mães que dizem que escutaram a mesma música durante a gravidez inteira e, ao nascer, quando colocada a mesma música, ou quando a mãe canta, o neném acalma. Ele reconhece a voz da mãe”, diz Iane Lauer.

Ao ouvir a voz da mãe, ainda dentro da barriga, ocorre mudanças nos batimentos cardíacos do bebê. Pesquisas revelam que eles são sensíveis às propriedades do som. Do nascimento até o terceiro mês, os sons melhores percebidos são os graves. Após esse período, a partir dos seis meses, as crianças invertem, os sons agudos passam a ser melhores percebidos, em detrimento aos graves. Mas o equilíbrio na audição só vai acontecer depois dos dois anos. Quando a criança atinge 10 anos, o nível audição já é muito parecida com a de um adulto.

A professora Iane Lauer desenvolve o projeto de extensão ‘Cantando Histórias²’, que trabalha a relação entre mães (e familiares) com os filhos de três meses a dois anos de idade. Ela fala sobre o desenvolvimento que é notado no durante a execução do projeto. “No decorrer das atividades das oficinas é possível ver o desenvolvimento acontecendo, o que por si só é maravilhoso. Também é extremamente gratificante perceber a alegria das mães e das crianças no processo de interação. Esse é um momento que se torna apenas delas: mães e bebês”, finaliza.


As pessoas ficam mais inteligentes?

O debate é antigo. Será que viver em um ambiente musicalmente rico é sinônimo de inteligência? As pesquisas não comprovam um efeito durador, mas é fato comprovado que a música traz benefícios. No entanto não se pode afirmar que esses benefícios tornam as pessoas mais inteligentes. Segundo a teoria das inteligências múltiplas³ do americano Howard Gardner, a inteligência não é unitária, mas, sim, compartimentada por competências específicas. Ele identificou as inteligências lingúística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal.

Todo indivíduo possui essas inteligências, o que varia são as predominâncias de uma a outra. “Na questão da aprendizagem lógico-matemática, por exemplo, existe uma relação entre crianças que são submetidas a estímulo da música e uma aprendizagem mais efetiva, mais rápida. Mas a gente também não pode dizer que por conta de haver essa relação, isso transcende para outros domínios”, esclarece Iani Lauer.

A música exerce um papel importantíssimo nas diversas sociedades, do oriente ao ocidente, nas suas mais diferentes formas. Desde antes de o nascimento até o último suspiro a música acompanha a vida do ser humano, estando presente em suas datas mais marcantes, arrancando lágrimas e sorrisos. A música é fundamental na vida de qualquer pessoa, não pelo que se pode conseguir por meio dela, mas pelo que ela é, por si mesma. Ninguém joga futebol para ficar mais inteligente, então por que se deve estudar música para este fim? “É importante estudar música, pela musica em si. E não porque vai ajudar na aprendizagem ou vai deixar o bebê mais calmo. A música é uma produção humana muito importante, então ela deve ser estimulada por si só, e não porque vai ajudar nisso ou naquilo”, finaliza Iane Lauer.



¹Efeito Mozart
O ‘Efeito Mozart’, que hoje é marca registrada, deu origem a uma verdadeira febre de consumo da música de Mozart e de programas ‘mágicos’ de educação musical, que prometiam desenvolver bebês mais inteligentes e mais aptos a obterem um lugar em universidades famosas, nos EUA. Em 1998, o governador da Geórgia, Zell Milner, ordenou a distribuição de CDs intitulados ‘Construa o cérebro de seu bebê através da música de Mozart’ em todas as maternidades do estado. Segundo o político, a distribuição do CD supostamente ‘garantiria’ o desenvolvimento da inteligência dos bebês e, portanto, de um estado com indivíduos mais inteligentes que a média. Tudo por conta da disseminação prematura pela mídia dos resultados de uma investigação científica preliminar em que apontou uma pequena melhoria em um sub-teste (habilidades espaciais) do famoso teste Stanford Binet de inteligência ocorrida logo após a audição de uma determinada obra musical de W.A. Mozart.

 

Oficinas de interação e desenvolvimento para mães e bebês

A criança é compreendida pelas atuais teorias do desenvolvimento de base construtivista como um ser ativo no próprio processo desenvolvimental, que acontece mediante a interação com o meio no qual está inserida. Nesse contexto a interação com os pais/cuidadores, em especial com a mãe é vista como propiciadora de desenvolvimento físico, mental e emocional.

O projeto de extensão “Cantando histórias” objetiva oferecer a mães de crianças de três meses a três anos, um espaço de interação e desenvolvimento para a díade e disponibilizar conhecimentos sobre desenvolvimento e saúde para essa faixa etária, mediante oficinas que acontecerão em fluxo contínuo durante o período de um ano.

As atividades das oficinas serão realizadas por professores e alunos da Ufopa e contarão com colaboradores de outras instituições voltadas para o público infantil. São dois os tipos de oficinas oferecidas:

1) Música e movimento: voltada para o público de três meses a dois anos, objetiva: promover o desenvolvimento perceptual e motor dos bebês, utilizando a música, dar noções de tons, ritmos e movimento e propiciar a interação entre mãe e bebê nesse processo. São 10 vagas ofertadas.

2) Hora da história: voltada para o público de três meses a três anos, objetiva: facilitar a interação entre mães e bebês mediante o ensino do uso de músicas cantadas e histórias, ensinar às mães a utilização de materiais simples para contar histórias, possibilitar ambiente rico de estímulos adequados ao desenvolvimento das crianças da faixa etária escolhida e propiciar a interação entre mãe e bebê nesse processo. São 10 as vagas ofertadas.

O projeto contribuirá, mediante as atividades oferecidas, para o uso efetivo das habilidades parentais no cuidado com os filhos e consequentemente, para o desenvolvimento mais saudável destes.

As oficinas acontecem sempre aos domingos, de 9h às 11h30, no endereço: Av. Mendonça Furtado, 699 (prédio da igreja Adventista). Para frequentar é necessário contato prévio para inscrição, pois as vagas são limitadas. Fone: 91946557


³Inteligências Multiplas 
Inteligência linguística - Os componentes centrais são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem.
Inteligência musical - Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música.
Inteligência lógico-matemática - É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los.
Inteligência espacial - Capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial.
Inteligência cinestésica - É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza.
Inteligência interpessoal - Habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas.
Inteligência intrapessoal - É o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais.



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