sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ética, plágio e jornalismo

Os riscos do plágio e as suas consequências no desempenho profissional
Cada dia que passa se tornam mais comuns, na mídia, notícias relacionadas à prática do plágio. Nas instituições de ensino, os professores procuram abordar com mais frequência, e ênfase, os riscos e as consequências dessa prática. Mas na correria do dia-a-dia e a pressão que recebem, principalmente na hora de fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), às vezes faz ‘crescer os olhos’ para a internet e praticar o conhecido ‘copiar’ e ‘colar’. A questão não se restringe apenas aos acadêmicos. Muitos profissionais acabam caindo no mesmo jogo perigoso. Na hora parece algo vantajoso, difícil de ser detectado, mas depois as consequências podem ser graves.

COMEÇA NA UNIVERSIDADE

Você tem de cumprir uma tarefa e o tempo está se esgotando. Acessa a internet e vê aquele monte de material disponível na rede. Encontra livros que fornecem todo o conteúdo que precisa. E aí, o que fazer? “Bom, vontade [de plagiar] até que dá, acredito que em todo mundo. Mas durante anos estudando sobre ética, e no final do curso ‘roubar’ a ideia de outra pessoa, isso quer dizer que o estudo não valeu de nada”, explica a recém formada em Administração, Elen Mazzochi, de 21 anos.

Ela comenta que todo o esforço que dedicou à produção da sua monografia valeu a pena. Elen até que reclamou das noites sem sono e dos trabalhos acumulados, mas não se arrepende de tanta dedicação. “No final todo esforço é recompensado. Responder as perguntas da banca sabendo que você escreveu o que esta lá é muito gratificante”, diz. E o resultado não poderia ser melhor, foi aprovada com nota 10. 
Eliezer Belo, autor de ‘O trabalho acadêmico e o plágio’ afirma que “a produção do trabalho acadêmico tem por objetivo inserir o aluno à pesquisa. O que dá caráter científico a um trabalho é exatamente sua fundamentação, que faz uso de uma metodologia própria de pesquisa e se apodera de um objeto manipulável e com regularidades.”
Ele acredita que é na universidade, por meio do TCC, que o aluno vai pegar gosto pelo mundo da pesquisa. É nessa etapa que suas bases devem ser trabalhadas. “Caso o aluno ignore essa condição, dificilmente terá sucesso após sua formação. Sem querer poetizar, o trabalho acadêmico deve produzir no aluno o sentimento de quem pintou um belo quadro, obra única, ou escreveu uma poesia, sentimento único, essa é a autenticidade do trabalho acadêmico.” Eliezer ainda diz que o sentimento de quem termina o trabalho e é aprovado pela banca, às vezes, é bem mais significante do que a formatura ou mesmo o recebimento do diploma.
A INTERNET DAS TENTAÇÕES

Não é de hoje que a internet se tornou a principal aliada de estudantes e profissionais. As facilidades que ela proporciona, às vezes, pode ser mal aproveitada. É o que diz o professor de Ética e Legislação da FIT, Ricardo Vojta. “A internet se tornou uma ferramenta muito utilizada por todos, e o jornalismo se utilizou desta como fonte de pesquisa e atualização. O fato negativo é a apropriação de notícias ou conhecimentos, frases e pensamentos de autores por terceiros. Essa situação, caso haja citação do autor ou fonte, não acarreta prejuízos, mas isso não ocorre frequentemente”.

A doutora em Comunicação, Socorro Veloso, afirma que a internet pode ser uma grande auxiliadora no desempenho dos jornalistas, e outros profissionais, desde que usada da maneira correta. Mas como fazer isso? “Invertendo o mecanismo da tentação; ou seja, buscando na internet o que ela tem de melhor: o maravilhoso banco de dados à nossa inteira disposição, a partir do qual podemos rapidamente produzir uma bela pesquisa que dê suporte a nossas reportagens, notícias, entrevistas”.

Com vasta experiência na área jornalística, a ex-editora dos jornais O Liberal (Pará), O Povo (Ceará) e o Diário do Povo (São Paulo), explica que a grande rede pode qualificar a pesquisa, melhorando pautas e abrindo mais possibilidades para o exercício do trabalho. “Poder confrontar esses dados, poder usá-los para qualificar nossas pautas, ou para identificar ângulos que ainda não tínhamos observado, é uma possibilidade espetacular, e impensável há 20 anos.” E informa onde ocorre o erro de muitos profissionais. “Se eu coletar uma informação, ignorar a fonte que a produziu, e me apropriar dessa informação como se tivesse sido originalmente produzida por mim, aí estarei incorrendo em fraude, enganando a mim mesmo e a meu leitor”, diz Socorro Veloso.

ÉTICA E O CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS

Ética é um dos assuntos mais abordados nos cursos universitários. Na maioria deles é disciplina obrigatória. No curso de jornalismo, por exemplo, ela é sempre debatida, dada a importância e a responsabilidade do fazer jornalístico perante a sociedade. Segundo Ricardo Vojta, a ética está intimamente ligada à conduta profissional, não somente a de jornalista, mas de qualquer um. “A palavra ética não pode ser reduzida a um conceito simples, visto ser algo de abrangência universal, mas como ideia básica seria a conduta humana, o caráter individual, distinguindo o bem do mal, onde o ser ético nunca busca o prejuízo alheio”, explica.

Os jornalistas possuem seu próprio Código de Ética, que é um conjunto de normas e condutas que guiam a atividade profissional.  Ele rege os jornalistas sobre como deve ser a sua conduta no dia-a-dia de trabalho. O Código orienta sobre o direito à informação, responsabilidades, relações profissionais e tudo que o jornalista deve ou não fazer.

Segundo a jornalista Socorro Veloso, ele reflete a necessidade de se reiterar os valores universais, como justiça, prudência e tolerância. Para ela não há nenhum dispositivo que aponte para a impossibilidade do cumprimento do Código de Ética, e diz que a justiça deve estar na base de toda e qualquer ação dos homens, incluindo os jornalistas. “Quando corremos atrás da notícia conscientes desse compromisso, ajudamos a desvendar tramas traçadas nos gabinetes dos poderosos e endinheirados, contribuímos para denunciar corruptos e corruptores, podemos impedir o desvio de dinheiro público, damos voz a grupos sociais historicamente silenciados”, explica.

Para exemplificar, ela cita alguns episódios políticos, envolvendo ex-presidentes, que ganharam ampla repercussão na imprensa brasileira. Os escândalos do governo Collor, entre 1990 e 1992, a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, e no escândalo do mensalão que atingiu o governo Lula, em 2005.

Uma coisa é certa, os jornalistas devem ter amplo conhecimento sobre ética e direito, vista a estreita relação que possuem com a área de atuação. Este conhecimento deve ser aprofundado na universidade. “A relação entre ética e direito reveste-se de especial importância para os futuros profissionais da comunicação, que são os alunos do curso”, explica José Manuel Santos, em ‘Ética da Comunicação’. Para ele a relação entre direito, ética e moral, por vezes, pode entrar em conflito. “A opinião pública moderna é muito sensível ao fato de determinadas ações de individualidades da vida pública, por exemplo, serem absolutamente ‘legais’, do ponto de vista do sistema jurídico vigente, mas, ao mesmo tempo, ‘moralmente’ inaceitáveis do ponto de vista da moral espontânea dessa opinião.”

PLÁGIO E DIREITO AUTORAL
Plágio se configura quando uma pessoa se apropria da ideia de terceiros. É reproduzir determinada informação como sendo sua, sem citar o autor ou fazer referência a ele. Entende-se por autor “a pessoa criadora de obra literária, artística ou científica”, segundo o Art. 11 da Lei nº 9.610. Esta lei se refere a direito autoral. Nela são encontrados todos os aspectos que regulamentam os direitos dos autores. O Art. 7º fala sobre as obras protegidas e também sobre as obras que podem ser reproduzidas.
A punição para quem faz a apropriação indevida é encontrada no Art. 108. Diz a lei: “deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identidade”.
Sônia Vasconcelos, doutora em Gestão e Difusão em Biociências, escreveu um artigo sobre “O plágio na comunidade científica: questões culturais e linguísticas”. Neste artigo ela diz que o plágio não pode ser tolerado, apesar da definição do que é plágio ser muito difusa. “Na verdade, não só o conceito como também as relações que se estabelecem com tal prática decorrem de um viés cultural importante. A abordagem do plágio é permeada pelo conceito de autoria e propriedade intelectual. Sendo assim, não se pode negar que culturas que legitimam a condenação da cópia de textos e ideias de outrem sem a devida citação, legitimam a propriedade intelectual do autor, ou seja, a originalidade.”
Nas publicações científicas, em alguns casos o plágio torna-se mais difícil de ser detectado. Um exemplo é quando a cópia acontece por forma de paráfrase. As ideias são copiadas, mas escritas de uma forma diferente da original. A punição para pesquisadores acusados de plágio é o bloqueio de futuras publicações.

No artigo ‘Os “novos” temas de ética em Jornalismo’, escrito por Luciene Tófoli, informa que “A prática, concordam muitos autores, não é nova. Entretanto, foi acentuada a partir do crescimento das megacorporações de comunicação, com a presença das mídias cruzadas e, principalmente, da internet onde até mesmo a facilidade tecnológica favorece esse tipo de comportamento com o conhecido comando Ctlr+C / Ctlr +V”.

Este texto eu também publiquei na coluna Oeste do Pará (O Liberal) e no Jornal de Santarém.

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