terça-feira, 15 de julho de 2014

Resenha sobre a Copa, o Felipão e a Seleção

SOBRE A COPA


O futebol está feio. E não é preciso ser especialista para notar isso. A coisa vai mal não só aqui no Brasil. A Copa do Mundo é a melhor prova. Tanta expectativa pra nada. Não sei se sou o único, mas eu achei esta Copa, com o perdão da palavra, uma bosta. E não entro no mérito da participação dos torcedores, e da festa nos estádios. Falo da bola rolando. Há alguns anos a inspiração foi sumindo para se dar lugar à transpiração. Saíram de cena os craques, entraram os cabeças de bagre. Saiu o talento, entrou a força. Antes, assistir a uma partida de futebol era diversão, arte. Hoje é sofrimento, quase infarte.

Até a Alemanha, que todos já esperavam uma boa campanha por conta do ótimo desempenho dos clubes locais nos últimos anos (Bayern de Munique e Borussia Dortmund), não jogou lá aquelas coisas. Um futebol comum. Nenhum craque, nada diferente. Empatou com Gana, suou pra ganhar da Argélia... que, convenhamos, não são ninguém no mundo futebolístico.

Mas, depois da surra no Brasil, se tornou a sensação. Por aí se explica um pouco do que dizem que brasileiro gosta de sofrer. Quanto mais sofre, mais adora o opressor. Na boa, torcer pra Alemanha depois de tomar um sarrafo de 7 a 1 é algo estranho. Mesmo que o adversário seja a Argentina.

SOBRE O BRASIL
David Luiz é um grande jogador. Disso ninguém duvida. Mas, infelizmente, nesta Copa ele foi muito mal. Talvez por jogar como volante no seu clube, ele não conseguiu ir bem como zagueiro. Contra a Alemanha, ele foi o principal responsável pelo resultado. Até porque não teve o Thiago Silva ao lado, para chamar a atenção. Como capitão, ele tinha a obrigação de assumir a responsabilidade de organizar o time dentro de campo. Mas fez justamente o contrário. Parecia um doidão. Embalado pela torcida, curtiu a sensação de se sentir um ídolo. Em vez de fazer o que devia e manter sua posição dentro de campo, quis bancar o herói, expondo a equipe e proporcionando aquele resultado tão elástico. Dos 7 gols, pelo menos 3 foram por falha dele. O Dante, coitado, se viu perdido tendo que marcar os alemães enquanto o David se aventurava lá na frente. Mas, ressalto, é muito bom jogador. Fez um golaço de falta nesta Copa.

Não nego que foi comovente o discurso dele, mas na hora de ter consciência tática, ele não se preocupou. Discurso ganha torcida, mas não constrói resultado positivo. Quis ser mais importante que os outros e caiu por seus próprios erros. Devia ter pensado nos brasileiros na hora que fez as cagadas, não depois, enquanto pedia desculpas, lagrimando.

No geral, o grupo era muito fraco. Só tínhamos zagueiros e volantes de qualidade. Nas laterais, uma lástima. Daniel Alves a Maicon disputando para ver quem acertaria o primeiro cruzamento. Acho que até agora estão tentando. Nenhum meia capaz de fazer a diferença. Oscar sumiu em campo. William surgiu não sei de onde só para combinar com o penteado do Marcelo, Dante e David Luiz. E, no ataque, nem se fala. Pra quem já teve no camisa 9 a esperança de muitos gols, ver o Fred na seleção é motivo de piada. Falando em piada, era o Jô que participava do Casseta e Planeta?

A esperança é que até 2018 uma nova geração surja e faça a diferença.

SOBRE O FELIPÃO

Claro que o Felipão tem culpa pela campanha realizada pelo Brasil, em casa. Mas a culpa não é só dele. Tanto é, que no ano passado, quando ele faturou a Copa das Confederações, que quase ninguém acreditava ser possível, caiu nos braços da torcida. Assumiu a seleção às vésperas, herdando uma bagunça deixada por Mano Menezes, e conseguiu formar um time bastante competitivo.

Com os jogadores que tinha, ele levou a seleção longe demais. Dentre 32 seleções, ficamos entre as quatro melhores. Fiasco foi a Itália, Espanha... não passaram nem da fase de grupos. Claro, foi vergonhoso tomar uma taca de 7 a 1. Mas, friamente, perder de 1, 5, ou 7, tem o mesmo efeito prático.

O Felipão está menos de dois anos no cargo. Fez o que pôde. Já está na hora de pensar diferente e parar de mudar de técnico como se troca de roupa. Já que estão falando tanto da Alemanha, seria bom pegar o exemplo. Há anos a seleção alemã não ganhava nada. E, mesmo assim, bancaram o mesmo técnico. O Felipão nunca teve essa chance. Nunca teve tempo para desenvolver seu trabalho. Sempre foi chamado às pressas. 

Para quem agora critica o Felipão, é bom lembrar um pouco da história. Quando ele assumiu pela primeira vez a seleção, em 2001, a realidade era parecida. Pegou a bomba deixada por Luxemburgo, Candinho e Leão. O Brasil estava perdido. Jogava mal e corria até o risco de ficar fora da Copa. No início não foi fácil, mas com as peças que tinha, Felipão soube engrossar o caldo.

O grupo era muito diferente do atual. Naquela época tínhamos vários craques. São Marcos, que salvou o time em diversas ocasiões; Lúcio, sempre com muita garra e determinação; Roque Júnior; Edmílson; Cafu, o capitão de última hora (Emerson foi cortado por lesão); Roberto Carlos, um dos melhores laterais do futebol mundial; Ronaldinho Gaúcho, fundamental na campanha e eternamente lembrado pelo jogo contra a Inglaterra; Denílson, o artista dos gramados; Rivaldo, o gênio da bola, importante em todas as partidas; Ronaldo, artilheiro da competição e autor dos gols que deram o título contra a Alemanha; além de Edílson, Gilberto Silva, Kléberson, Juninho Paulista e Luizão... aquele time dava show. O atual dá choro. 

Assim como em 2002, Felipão foi cabeça dura. Lá ele apostou no Ronaldo (que vinha de seguidas lesões, deixando de fora Romário, o melhor jogador na posição, na época). Desta vez ele bancou o Fred. No entanto, o tiro saiu pela culatra. Se lá no passado Ronaldo resolveu e, ao lado do Rivaldo, foi o principal jogador brasileiro; no presente, Fred não mostrou ser merecedor da vaga na seleção. De longe foi o pior jogador brasileiro. Com ele, o Felipão cavou sua própria cova. Talvez ele queria dar uma de Zagallo, esperando Fred desencantar, pra poder gritar: “vocês vão ter que me engolir”. Mas foi uma opção. E, quando envolve escolhas, nem sempre é possível acertar.

Ele é o último técnico campeão do mundo pelo Brasil e vai continuar sendo até, pelo menos, 2018. E, por pior que pareça, a colocação da seleção na Copa de 2014 foi melhor do que nas duas anteriores. Em 2006, Parreira, apesar de todos os craques que tinha à disposição, ficou apenas em 5º. Em 2010, Dunga levou o Brasil para o 6º lugar. Quer dizer, mesmo com a pior safra de jogadores das últimas décadas, Felipão ainda conseguiu ser melhor que seus antecessores. 

Não vejo como desastre ficar entre os quatro melhores.

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